sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O MUNDO DA MARGARINA


         
         Não  fiz objetivamente promessas para 2013. Tenho feito algumas há tempos e, por essa razão, acabei chegando ao dia 31 meio exaurido para novas resoluções. O ano de 2012 foi excelente e, no fim dele, deixei o 2013 meio livre. 

            No dia 31 de dezembro pensei sobre os votos, os desejos mútuos de um ano cheio de coisas boas. Tudo muito politicamente correto, o que não necessariamente é falso. Adoro a festa, os fogos, o mar, pular as sete ondas, comer isso e aquilo, beber champanhe, abraçar os afetos, mas... posso fazer isso sempre que eu quiser.

            O que me ocorre pensar, em síntese, é que estar em determinados lugares hoje em dia, não é mais uma experiência e sim uma aparência. Aquela aparência de felicidade que você talvez consiga mostrar no Instagram ou no Facebook, por exemplo. E que, só a partir disso e por isso, é que vai acabar fazendo algum sentido para você. 

            O disfarce da realidade transforma o mundo real em um mundo da margarina. Assim como uma foto trabalhada no Photoshop, a realidade está sofrendo alterações significativas que partem das distorções da realidade feitas por nós mesmos. Basta que vejamos as fotos: quase impossível alguém não estar sorrindo. 

            Quando olhamos mulheres e homens “impossíveis” em revistas, pensamos: eles não são reais, tem efeito aqui, tem uma puxada ali, esqueceram de colocar o umbigo, etc. Mas, inconscientemente, mesmo assim, é esse o modelo que buscamos. Agora, estamos fazendo essa mesma movimentação que antes se resumia ao corpo, no cotidiano também. 

            Vidas impossíveis que se legitimam através do olhar alheio. Estar em um show só faz sentido se todos souberem que estamos no show. Estar deitado na rede em uma praia linda qualquer só fará sentido se rolar aquela fotinho cheia de curtidas. E se não curtirem? Será menos prazerosa a sensação do desfrute.

            Não é por acaso que as grandes Google e Facebook estejam cada vez mais investindo em políticas de privacidade. Mas deve ser complicado lidar com este antagonismo: quero me mostrar versus não quero que me vejam. Aliás, para qualquer empresa ou pessoa física é complicado lidar com a hipocrisia.

            Para 2013, então, não fiz promessas. Quero tão somente que a minha vida seja mais real. O ano muda, de 2012 para 2013, quem muda o resto somos nós. 

(A foto é do Miguel Rio Branco)

2 comentários:

  1. "Adoro a festa, os fogos, o mar, pular as sete ondas, comer isso e aquilo, beber champanhe, abraçar os afetos, mas... posso fazer isso sempre que eu quiser." Exato. Este último combo natal + ano novo me deixou exausta das convenções familiares de todo ano...

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  2. curiosamente, estou na mesma vibe.
    e, como de costume, adorei o teu texto.
    :)

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