quarta-feira, 28 de abril de 2010

O ESTRANGEIRO CAETANO

Caetano Veloso:

"(...)

É chegada a hora da reeducação de alguém

Do Pai do Filho do espirito Santo amém

O certo é louco tomar eletrochoque

O certo é saber que o certo é certo

O macho adulto branco sempre no comando

E o resto ao resto, o sexo é o corte, o sexo

Reconhecer o valor necessário do ato hipócrita

Riscar os índios, nada esperar dos pretos

E eu, menos estrangeiro no lugar que no momento

Sigo mais sozinho caminhando contra o vento

E entendo o centro do que estão dizendo

(...)"

domingo, 25 de abril de 2010

DAMA DA NOITE

Dama da noite, um conto do grande Caio Fernando Abreu, é sem dúvida um dos meus prediletos da literatura brasileira. Exponho estas palavras-vísceras aqui no BLOG. Vamos colocar a mão na ferida:

Dama da noite
Para Márcia Denser

E sonho esse sonho que se estende

em rua, em rua em rua

em vão

(Lucia Villares: Papos de Anjo)

Como se eu estivesse por fora do movimento da vida. A vida rolando por aí feito roda-gigante, com todo mundo dentro, e eu aqui parada, pateta, sentada no bar. Sem fazer nada, como se tivesse desaprendido a linguagem dos outros. A linguagem que eles usam para se comunicar quando rodam assim e assim por diante nessa roda-gigante. Você tem um passe para a roda-gigante, uma senha, um código, sei lá. Você fala qualquer coisa tipo bá, por exemplo, então o cara deixa você entrar, sentar e rodar junto com os outros. Mas eu fico sempre do lado de fora. Aqui parada, sem saber a palavra certa, sem conseguir adivinhar. Olhando de fora, a cara cheia, louca de vontade de estar lá, rodando junto com eles nessa roda idiota - tá me entendendo, garotão?

Nada, você não entende nada. Dama da noite. todos me chamam e nem sabem que durmo o dia inteiro. Não suporto: luz, também nunca tenho nada pra fazer - o quê? Umas rendas aí. É, macetes. Não dou detalhe, adianta insistir. Mutreta, trambique, muamba. Já falei: não adianta insistir, boy . Aprendi que, se eu der detalhe, você vai sacar que tenho grana e se eu tenho grana você vai querer foder comigo só porque eu tenho grana. E acontece que eu ainda sou babaca, pateta e ridícula o suficiente para estar procurando O verdadeiro amor. Pára de rir, senão te jogo já este copo na cara. Pago o copo, a bebida. Pago o estrago e até o bar, se ficar a fim de quebrar tudo. Se eu tô tesuda e você anda duro e eu precisar de cacete, compro o teu, pago o teu. Quanto custa? Me dil que eu pago. Pago bebida, comida, dormida. E pago foda também, se for preciso.

Pego, claro que eu pego. Pego sim, pego depois. É grande? Gosto de grande, bem grosso. Agora não. Agora quercì falar na roda. Essa roda, você não vê, garotão? Está por aí. rodando aqui mesmo. Olha em volta, cara. Bem do teu lado. Naquela mina ali, de preto, a de cabelo arrepiadinho. Tá bom, eu sei: pelo menos dois terços do bar veste preto e tem cabelo arrepiadinho, inclusive nós. Sabe que, se há uns dei anos eu pensasse em mim agora aqui sentada com você, eu não ia acreditar? Preto absorve vibração negativa, eu pensava. O contrário de branco, branco reflete. Mas acho que essa moçada tá mais a fim mesmo é de absorver, chupar até o fundo do mal - hein? Depois, até posso. Tem problema, não. Mas não é disso que estou falando agora, meu bem.

Você não gosta? Ah, não me diga, garotinho. Mas se eu pago a bebida, eu digo o que eu quiser, entendeu? Eu digo meu-bem assim desse jeito, do jeito que eu bem entender. Digo e repito: meu-bem-meu-bem-meu-bem. Pego no seu queixo a hora que eu quiser também, enquanto digo e repito e redigo meu-bem-meu-bem. Queixo furadinho, hein? Já observei que homem de queixo furadinho gosta mesmo é de dar o rabo. Você já deu o seu? Pelo amor de Deus, não me venha com aquela história tipo sabe, uma noite, na casa de um pessoal em Boiçucanga, tive que dormir na mesma cama com um carinha que. Todo machinho da sua idade tem loucura por dar o rabo, meu bem. Ascendente Câncer, eu sei: cara de lua, bunda gordinha e cu aceso. Não é vergonha nenhuma: tá nos astros, boy. Ou então é veado mesmo, e tudo bem.

Levanta não, te pago outra vodca, quer? Só pra deixar eu falar mais na roda. Você é muito garoto, não entende dessas coisas. Deixa a vida te lavrar a cara, antes, então a gente. Bicho, esquisito: eu ia dizer alma, sabia? Quer que eu diga? Tá bom, se você faz tanta questão, posso dizer. Será que ainda consigo, como é que era mesmo? Assim: deixa a vida te lavrar a alma, antes, então a gente conversa. Deixa você passar dos trinta, trinta e cinco, ir chegando nos quarenta e não casar e nem ter esses monstros que eles chamam de filhos, casa própria nem porra nenhuma. Acordar no meio da tarde, de ressaca, olhar sua cara arrebentada no espelho. Sozinho em casa, sozinho na cidade, sozinho no mundo. Vai doer tanto, menino. Ai como eu queria tanto agora ter uma alma portuguesa para te aconchegar ao meu seio e te poupar essas futuras dores dilaceradas. Como queria tanto saber poder te avisar: vai pelo caminho da esquerda, boy, que pelo da direita tem lobo mau e solidão medonha.

A roda? Não sei se é você que escolhe, não. Olha bem pra mim - tenho cara de quem escolheu alguma coisa na vida? Quando dei por mim, todo mundo já tinha decorado a tal palavrinha-chave e tava a mil, seu lugarzinho seguro, rodando na roda. Menos eu, menos eu. Quem roda na roda fica contente. Quem não roda se fode. Que nem eu, você acha que eu pareço muito fodida? Um pouco eu sei que sim, mas fala a verdade: muito? Falso, eu tenho uns amigos, sim. Fodidos que nem eu. Prefiro não andar com eles, me fazem mal. Gente da minha idade, mesmo tipo de. Ia dizer problema, puro hábito: não tem problema. Você sabe, um saco. Que nem espelho: eu olho pra cara fodida deles e tá lá escrita escarrada a minha própria cara fodida também, igualzinha à cara deles. Alguns rodam na roda, mas rodam fodidamente. Não rodam que nem você. Você é tão inocente, tão idiotinha com essa camisinha Mr. Wonderful. Inocente porque nem sabe que é inocente. Nem eles, meus amigos fodidos, sabem que não são mais. Tem umas coisas que a gente vai deixando, vai deixando, vai deixando de ser e nem percebe. Quando viu, babau, já não é mais. Mocidade é isso aí, sabia? Sabe nada: você roda na roda também, quer uma prova? Todo esse pessoal da preto e cabelo arrepiadinho sorri pra você porque você é igual a eles. Se pintar uma festa, te dão um toque, mesmo sem te conhecer. Isso é rodar na roda, meu bem.

Pra mim, não. Nenhum sorriso. Cumplicidade zero. Eu não sou igual a eles, eles sabem disso. Dama da noite, eles falam, eu sei. Quando não falam coisa mais escrota, porque dama da noite é até bonito, eu acho. Aquela flor de cheiro enjoativo que só cheira de noite, sabe qual? Sabe porra: você nasceu dentro de um apartamento, vendo tevê. Não sabe nada. fora essas coisas de vídeo, performance, high-tech, punk, dark. computador, heavy-metal e o caralho. Sabia que eu até vezenquando tenho mais pena de você e desses arrepiadinhos de preto do que de mim e daqueles meus amigos fodidos? A gente teve uma hora que parecia que ia dar certo. Ia dar, ia dar. sabe quando vai dar? Pra vocês, nem isso. A gente teve a ilusão, mas vocês chegaram depois que mataram a ilusão da gente. Tava tudo morto quando você nasceu, boy, e eu já era puta velha. Então eu tenho pena. Acho que sou melhor, sei porque peguei a coisa viva. Tá bom, desculpa, gatinho. Melhor, melhor não. Eu tive mais sorte, foi isso? Eu cheguei antes. E até me pergunto se não é sorte também estar do lado de fora dessa roda besta que roda sem fim, sem mim. No fundo, tenho nojo dela - você?

Você não viu nada, você nem viu o amor. Que idade você tem, vinte? Tem cara de doze. Já nasceu de camisinha em punho, morrendo de medo de pegar Aids. Vírus que mata. neguinho, vírus do amor. Deu a bundinha, comeu cuzinho. pronto: paranóia total. Semana seguinte, nasce uma espinha na cara e salve-se quem puder: baixou Emílio Ribas. Caganeira, tosse seca, gânglios generalizados. Õ boy, que grande merda fizeram com a tua cabecinha, hein? Você nem beija na boca sem morrer de cagaço. Transmite pela saliva, você leu em algum lugar. Você nem passa a mão em peito molhado sem ficar de cu na mão. Transmite pelo suor, você leu em algum lugar. Supondo que você lê, claro. Conta pra tia: você lê, meu bem? Nada, você não lê nada. Você vê pela tevê, eu sei. Mas na tevê também dá, o tempo todo: amor mata amor mata amor mata. Pega até de ficar do lado, beber do mesmo copo. Já pensou se eu tivesse? Eu, que já dei pra meia cidade e ainda por cima adoro veado.

Eu sou a dama da noite que vai te contaminar com seu perfume venenoso e mortal. Eu sou a flor carnívora e noturna que vai te entontecer e te arrastar para o fundo de seu jardim pestilento. Eu sou a dama maldita que, sem nenhuma piedade, vai te poluir com todos os líquidos, contaminar teu sangue com todos os vírus. Cuidado comigo: eu sou a dama que mata, boy. Já chupou buceta de mulher? Claro que não, eu sei: pode matar. Nem caralho de homem: pode matar. Já sentiu aquele cheiro molhado que as pessoas têm nas virilhas quando tiram a roupa? Está escrito na sua cara, tudo que você não viu nem fez está escrito nessa sua cara que já nasceu de máscara pregada. Você já nasceu proibido de tocar no corpo do outro. Punheta pode, eu sei, mas essa sede de outro corpo é que nos deixa loucos e vai matando a gente aos pouquinhos. Você não conhece esse gosto que é o gosto que faz com que a gente fique fora da roda que roda e roda e que se foda rodando sem parar, porque o rodar dela é o rodar de quem consegue fingir que não viu o que viu. O boy, esse mundo sujo todo pesando em cima de você, muito mais do que de mim e eu ainda nem comecei a falar na morte...

Já viu gente morta, boy? É feio, boy. A morte é muito feia, muito suja, muito triste. Queria eu tanto ser assim delicada e poderosa, para te conceder a vida eterna. Queria ser uma dama nobre e rica para te encerrar na torre do meu castelo e poupar você desse encontro inevitável com a morte. Cara a cara com ela, você já esteve? Eu, sim, tantas vezes. Eu sou curtida, meu bem. A gente lê na sua cara que nunca. Esse furinho de veado no queixo, esse olhinho verde me olhando assim que nem eu fosse a Isabella Rossellini levando porrada e gostando e pedindo eat me eat me, escrota e deslumbrante. Essa tontura que você está sentindo não é porre, não. É vertigem do pecado, meu bem, tontura do veneno. O que que você vai contar amanhã na escola, hein? Sim, porque vocé ainda deve ir à escola, de lancheira e tudo. Já sei: conheci uma mina meio coroa, porra-louca demais. Cretino, cretino, pobre anjo cretino do fim de todas as coisas. Esse caralhinho gostoso aí, escondido no meio das asas, é só isso que você tem por enquanto. Um caralhinho gostoso, sem marca nenhuma. Todo rosadinho. E burro. Porque nem brochar você deve ter brochado ainda. Acorda de pau duro, uma tábua, tem tesão por tudo, até por fechadura. Quantas por dia? Muito bem, parabéns: você tá na idade. Mas anota aí pro teu futuro cair na real: essa sede, ninguém mata. Sexo é na cabeça: você não consegue nunca. Sexo é só na imaginação. Você goza com aquilo que imagina que te dá o gozo, não com uma pessoa real, entendeu? Você goza sempre com o que tá na sua cabeça, não com quem tá na cama. Sexo é mentira, sexo é loucura, sexo é sozinho, boy.

Eu, cansei. Já não estou mais na idade. Quantos? Ah, você não vai acreditar, esquece. O que importa é que você entra por um ouvido meu e sai pelo outro, sabia? Você não fica. você não marca. Eu sei que fico em você, eu sei que marco você. Marco fundo. Eu sei que, daqui a um tempo, quando você estiver rodando na roda, vai lembrar que, uma noite. sentou ao lado de uma mina louca que te disse coisas, que te falou no sexo, na solidão, na morte. Feia, tão feia a morte, boy. A pessoa fica meio verde, sabe? Da cor quase assim desse molho de espinafre frio. Mais clarinho um pouco, mas isso nem é o pior. Tem uma coisa que já não está mais ali, isso é o mais triste. Você olha, olha e olha e o corpo fica assim que nem uma cadeira. Uma mesa, um cinzeiro, um prato vazio. Uma coisa sem nada dentro. Que nem casca de amendoim jogada na areia, é assim que a gente fica quando morre, viu, boy? E você, já descobriu que um dia também vai morrer?

Dou, claro. Ficou nervosinho, quer cigarro? Mas nem fumar você fuma, o quê? Compreendo, compreendo sim, eu compreendo sempre, sou uma mulher muito compreensiva. Sou tão maravilhosamente compreensiva e tudo que, se levar você pra minha cama agora e amanhã de manhã você tiver me roubado toda a grana, não pense que vou achar você um filho da puta. Não é o máximo da compreensão? Eu vou achar que você tá na sua, um garotinho roubando uma mulher meio pirada, meio coroa, que mexeu com sua cabecinha de anjo cretino desse nojento fim de todas as coisas. Tá tudo bem, é assim que as coisas são: ca-pi-ta-lis-tas, em letras góticas de neon. Mulher pirada e meio coroa que nem eu tem mais é que ser roubada por um garotinho ïmbecil e tesudinho como você. Só pra deixar de ser burra caindo outra vez nessa armadilha de sexo.

Fissura, estou ficando tonta. Essa roda girando girando sem parar. Olha bem: quem roda nela? As mocinhas que querem casar, os mocinhos a fim de grana pra comprar um carro, os executivozinhos a fim de poder e dólares, os casais de saco cheio um do outro, mas segurando umas. Estar fora da roda é não segurar nenhuma, não querer nada. Feito eu: não seguro picas, não quero ninguém. Nem você. Quero não, boy. Se eu quiser, posso ter. Afinal, trata-se apenas de um cheque a menos no talão, mais barato que um par de sapatos. Mas eu quero mais é aquilo que não posso comprar. Nem é você que eu espero, já te falei. Aquele um vai entrar um dia talvez por essa mesma porta, sem avisar. Diferente dessa gente toda vestida de preto, com cabelo arrepiadinho. Se quiser eu piro, e imagino ele de capa de gabardine, chapéu molhado, barba de dois dias, cigarro no canto da boca, bem noir. Mas isso é filme, ele não. Ele é de um jeito que ainda não sei, porque nem vi. Vai olhar direto para mim. Ele vai sentar na minha mesa, me olhar no olho, pegar na minha mão, encostar seu joelho quente na minha coxa fria e dizer: vem comigo. É por ele que eu venho aqui, boy, quase toda noite. Não por você, por outros ecmo você. Pra ele, me guardo. Ria de mim, mas estou aqui parada, bêbada, pateta e ridícula, só porque no meio desse lixo todo procuro o verdadeiro amor. Cuidado, comigo: um dia encontro.

Só por ele, por esse que ainda não veio, te deixo essa grana agora, precisa troco não, pego a minha bolsa e dou a fora já. Está quase amanhecendo, boy. As damas da noite recolhem seu perfume com a luz do dia. Na sombra, sozinhas. envenenam a si próprias com loucas fantasias. Divida essa sua juventude estúpida com a gatinha ali do lado, meu bem. Eu vou embora sozinha. Eu tenho um sonho, eu tenho um destino, e se bater o carro e arrebentar a cara toda saindo daqui. continua tudo certo. Fora da roda, montada na minha loucura. Parada pateta ridícula porra-louca solitária venenosa. Pós-tudo, sabe como? Darkérrima, modernésima, puro simulacro. Dá minha jaqueta, boy, que faz um puta frio lá fora e quando chega essa hora da noite eu me desencanto. Viro outra vez aquilo que sou todo dia, fechada sozinha perdida no meu quarto, longe da roda e de tudo: uma criança assustada.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

ANEDOTA DE POETA

Às hipocrisias, dedico Drummond:


Anedota Búlgara

Era uma vez um czar naturalista

que caçava homens.

Quando lhe disseram que também se caçam borboletas e andorinhas,

ficou muito espantado

e achou uma barbaridade.

Carlos Drummond de Andrade

domingo, 18 de abril de 2010

EM 1936

Meu avô foi e é uma das figuras mais significativas e importantes da minha vida. A minha formação intelectual tem muita ligação com ele, compartilhamos muitas coisas, inúmeras cartas (lindas) escritas a punho. Hoje, mexendo em umas caixas minhas, encontrei esta linda foto dele. Severino José Collares de Collares, meu querido avô, em 1936.




quinta-feira, 15 de abril de 2010

terça-feira, 13 de abril de 2010

DIÁRIO



Hoje gostaria apenas de deixar registrado aqui que estou muito feliz com todas as coisas ótimas que estão acontecendo na minha vida! Foram muitas mudanças neste ano de 2010. A impressão que tenho, agora, é que estou colhendo os frutos de decisões certas e ponderadas. Fico imensamente feliz pelos amigos que tenho perto de mim, com os quais compartilho toda esta minha alegria e com os quais contei na hora em que a barra emocional pesou.

Não é fácil ter coragem para enfrentar os resultados das próprias decisões. Porém, cada vez mais aprendo que quando tais decisões são tomadas mediante uma boa reflexão racional e emocional, o resultado só tende a ser positivo!

Daqui para frente só quero estabelecer relações, sejam elas da natureza que forem, com base no respeito mútuo. Não se trata de uma regra a ser seguida, mas sim de um princípio para minha vida.

"Os homens não têm muito respeito pelos outros porque têm pouco até por sí próprios." (Leon Trotsky)

A foto acima é do genial Bresson.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

NÃO VEJA

Quando a chuva é em São Paulo, governo do pré-candidato José Serra (PSDB), a revista VEJA é implacável com a natureza! Quando a chuvarada é no Rio de Janeiro, Cidade cujos políticos são aliados do Presidente Lula, a VEJA é implacável com os políticos. Vamos assinar a VEJA para colecionar contradições?




A questão é que em ambos os lugares as chuvas foram intensas, não há dúvidas, muito acima da normalidade. Mas fazer uma análise crítica quanto à gestão política apenas em uma das reportagens é muito rasteiro e hipócrita da parte dessa revistinha.

domingo, 11 de abril de 2010

UMA SOCIEDADE MICHA



Hoje, lendo a Folha Online fiquei surpreso positivamente com um bom artigo do Professor Emérito da USP e Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, senhor José Arthur Giannotti. É um artigo meio polêmico, principalmente para os defensores ferrenhos do Presidente Lula. Mas acho que cabe a reflexão, para que meditemos sobre um tema tão cruel, como é o que envolve as ditaduras. O Professor em questão coloca os pontos de forma clara e não nos cabe aqui desqualificá-lo por parecer tratar-se de matéria atinente às campanhas eleitorais que começam.


Vamos dar um crédito ao Professor Emérito senhor José Arthur Giannotti que vem apresentar-nos uma ótima reflexão não apenas sobre o atual governo, mas sobre a cegueira coletiva que às vezes parece nos envolver. Admirar um estadista como o Presidente Lula não me exime de criticá-lo, de não concordar com algumas opiniões dele, por isso trago este artigo para o BLOG, queria que vocês tivessem acesso a ele também. Vejamos:

Os novos bolchevistas

"Silêncio de instituições e intelectuais brasileiros sobre a violação de direitos políticos em Cuba revela o mais estreito pragmatismo."

Para os mais jovens, vale lembrar que os bolchevistas -palavra que vem do russo significando maioria- representavam a facção majoritária que, no congresso do Partido Comunista de 1903, seguiu Lênin, contra os menchevistas, os minoritários, sociais-democratas mais moderados do que o grande líder revolucionário.

Mas interessa, neste momento, lembrar que o bolchevismo representou uma forma de prática política em que o militante adere ao partido de corpo e alma, como se aderisse a uma igreja, a uma instituição prenhe de verdade. Os velhos comunistas pediam a autorização do partido para se casarem.

E, durante os processos de Moscou, quando Stálin liquidou seus adversários, estes terminaram confessando crimes que não tinham cometido, pois pensavam o partido como a morada da verdade.

Se o comunismo desapareceu do horizonte político de hoje, se a democracia se impôs, vamos dizer assim, como valor universal, não é por isso que essa adesão emocional, e às vezes mística, a uma organização política tenha se extinguido.

É muito comum em pequenos partidos de esquerda (ou de direita), assim como em certas correntes da esquerda infiltradas nos grandes partidos. A maior surpresa, todavia, é constatar que medra no pensamento de muitos intelectuais.

Compreende-se que um militante endosse uma decisão partidária, mesmo contra sua vontade. Participou das discussões internas do partido e, tendo perdido a disputa, só lhe cabe acatar a decisão da maioria. Há um compromisso com a instituição em que milita. Se ela viola seus princípios, resta-lhe apenas retirar-se.

Nas situações-limite, porém, essa regra se torna relativa. Ao intelectual, em particular, orgânico ou não, cabe estar sempre atento às questões de princípio. Se um partido nega um de seus esteios fundadores, não precisa abandoná-lo, desde que faça ouvir bem alto sua voz discordante.

Não há como transigir quando se trata de uma questão que diz respeito ao funcionamento da própria democracia, do direito de as minorias se manifestarem e lutarem por seus ideais.

Sabemos que não é o que está acontecendo em Cuba, na China e em outros lugares. Minha geração foi tomada de entusiasmo pela Revolução Cubana. Era um raio de sol na América Latina, quando predominavam as contrarrevoluções autoritárias. Entendemos a necessidade de Fidel se aproximar da União Soviética, diante da pressão americana, principalmente depois do embargo decretado.

Aceitamos, embora com relutância, o "paredón", o fuzilamento dos inimigos do regime. Há momentos em que a violência política se torna inevitável. Mas aos poucos fomos percebendo que a Revolução Cubana estava se degenerando.

Caricatura

Jean-Paul Sartre [1905-80] foi o primeiro intelectual conhecido a romper com Fidel. Depois se avolumaram as evidências de que o regime se tornava cada vez mais autoritário, reprimindo sem piedade qualquer manifestação oposicionista. Hoje a República cubana é uma caricatura do socialismo.

E o embargo americano que impede Cuba de se desenvolver? E as conquistas sociais, principalmente no campo da saúde, da educação e do esporte, que colocaram Cuba na modernidade?

Tudo isso continua sendo muito pertinente, mas não retira dos cubanos o direito de divergirem das políticas oficiais. Mais ainda, não abole a distinção entre o preso político, aquele que sofre punição por sua militância política, e o preso comum, que simplesmente transgride em prol de si mesmo ou de sua gangue.

As manifestações contra o regime cubano crescem dia a dia. Tudo indica que a repressão aumentará. Não podemos aceitar que os manifestantes sejam tratados como presos comuns. Mas, como sempre, o governo Lula dá uma no prego e outra na ferradura.

Desta vez, porém, a pancada na ferradura foi muito maior, porque ferrou qualquer adversário, negando seu estatuto de político, mesmo quando faz greve de fome para ser reconhecido como tal. Cabe então a nós, intelectuais brasileiros, denunciar essa violência, defender o direito e o espaço das oposições.

No entanto, muitos de nós simplesmente estão se furtando a tomar firme posição contra esse escândalo. Estão casados com os grupos de esquerda em que militam e comprometidos com a política do atual governo, mesmo quando ela nega princípios gerais que comandam os ideais democráticos.

Até o Cebrap

O maior argumento é que agora qualquer manifestação teria efeitos eleitorais. Mas o silêncio não tem o mesmo efeito? Interessante é que até mesmo o Cebrap, uma instituição que, durante a ditadura, não deixou de denunciar as violações dos direitos democráticos, hoje simplesmente está calado.

E, naqueles tempos, o efeito não era eleitoral, mas a porrada dos gendarmes do governo. Cabe refletir sobre o que está atualmente acontecendo no Brasil. Em particular a vida pública está perdendo qualquer dimensão normativa. Vale o pragmatismo mais estreito.

Importa ganhar as eleições, fazer um governo popular, não perturbar a onda de felicidade que nos cobre mansamente. Ainda que sejam adiadas decisões importantes que não caiam no gosto do público, que as próximas gerações paguem o preço de nossas conveniências.

Resulta daí que cada vez mais tendemos a nos tornar uma sociedade média, média, micha.

JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI é professor emérito da USP e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. Escreve na seção "Autores", do Mais!.

sábado, 10 de abril de 2010

"O POVO DAQUI É HORRÍVEL"



Que a atriz Susana Vieira há tempos vem mostrando-se ridícula, todo mundo sabe. Há uns seis anos atrás quando a vi no palco pela primeira e última vez, encenando “Água Viva”, de Clarice Lispector, tive minha primeira e inesquecível experiência de ver o quanto um ator pode destruir uma obra magnífica.

Susana Vieira no Teatro é um desrespeito ao teatro, ela é uma atriz de novela e até pode ter seus méritos por isso, não desqualifico.


Mas a última de Susana é algo impressionante, apenas confirma nossa ideia sobre o quão rasa é esta mulher arrogante e prepotente. Segundo um site da Internet chamado R7, Susana Vieira foi convidada para fazer o papel de Maria, mãe de Jesus, na Paixão de Cristo em Fazenda Nova, no Estado de Pernambuco e disse o seguinte do lugar:

“Estou numa selva, no fim do mundo. Ô lugar feio! O povo daqui é horrível. Para me comunicar com o Rio (RJ) só se for por meio de fumaça e tambores.”

Susana Vieira não foi apenas uma estúpida com a região de Pernambuco, mas foi grosseira com o povo de lá, ela humilhou o povo nordestino. Aliás, humilhar pessoas vem sendo seu esporte predileto.

Em verdade, o que gostaria de deixar registrado aqui é que em alguns Estados do Brasil, os moradores (cidadãos brasileiros) são vítimas – VÍTIMAS! – da subserviência cultural que se arrasta desde o tempo da colonização. Todavia, não sei se é o caso da região onde a glamurosa moradora da Barra da Tijuca estava.


Talvez por esses cidadãos serem acostados à margem dos chamados “desenvolvimentos” é que não consigam se sentir empoderados para calar a boca dessa senhora. Com todo respeito aos seus quase 70 (setenta) anos, se eu estivesse lá, mandaria ela na hora não só fechar a bocarra, mas solicitaria que ela retornasse o mais breve possível à Barra da Tijuca com seu mega hair para continuar sua vida de mediocridade e estupidez.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

VEJO O RIO DE JANEIRO

O Rio de Janeiro é, sem dúvida, uma das cidades mais lindas do mundo. Eu amo o Rio! Em 2009 fui bastante pra lá, mas muito menos do que eu gostaria. Não há dúvida, também, que o Rio de Janeiro é uma cidade de muitos caos. Já diria Fernanda Abreu, é um purgatório da beleza e do caos.


Mas muito da desordem a que estamos acostumados advém da ingerência política sobre o Rio. Lá existe, a meu ver, uma sucessão de fracassos políticos, uma tradição estranha em eleições. O casal Garotinho, por exemplo, é algo que politicamente não consigo entender direito.

Porém, afora todas as questões cotidianas - infelizmente - as quais nos acostumamos: violência, controles paralelos, guerra civil, etc. Agora estamos diante de mais um exemplo das precárias administrações públicas cariocas. Não se trata tão somente de desastres ambientais, chuvas excessivas ou deslizamentos de terra. Vê-se um desastre de planejamento urbano, maquiagem em excesso e deslizamentos de discursos frágeis e oportunistas.

Gosto imensamente do Rio e queria muito que tudo fosse diferente por lá. Uma cidade tão linda e tão maltratada é triste de se ver. Quando comecei a ver as imagens na TV, do povo nas ruas sem conseguir voltar para casa, as grandes Avenidas intransitáveis, pessoas morrendo e outras perdendo tudo o que possuíam, quis cantar o Samba do Avião de uma forma diferente, meu desejo era cantar assim: "minha alma chora, vejo o Rio de Janeiro".

É ano de eleição, por favor, vamos aprender a votar de uma vez por todas.

terça-feira, 6 de abril de 2010

UMA NAVALHADA NA CARNE


Ausência

Estas coisas que não existem
Que não me cercam
É da ausência das coisas
Da falta que faz
O que não tive
Acabo respondendo
Ao que não me perguntam
Neste entardecer de outono
Em que a chuva cai
Quem sabe lavando a alma
E tiro os óculos que não tenho
Acendo as velas que não vejo
É da ausência
Que beijo a boca de quem amo
No silêncio sem sentido
Desta peça escura
E vazia

A foto é do impressionante Henri Cartier-Bresson e o poeminha é meu, datado de 13 de junho de 2003.

A OCUPADA DEBORAH SECCO



Li só agora na Folha Online que a atriz Deborah Secco votou – sozinha – 3.000 vezes para o Dourado ganhar o BBB10. Daí eu, que assim como ela ando sem muito o que fazer, resolvi calcular isso em tempo.

Senão vejamos:

Para cada voto vamos destinar 10 segundos, pois ela tinha que escrever uma palavra para poder confirmar cada voto, uma espécie de código de segurança.

3.000 votos x 10 segundos = 500 minutos = 8,34 horas

Já pensou ficar 8 horas e 34 minutos clicando feito uma louca como a Deborah Secco para alguém ganhar o BBB10?

O Dourado ganhou o BBB10 com 60% dos votos, né? Foram 154 milhões de votos. Desses, então, 92 milhões de votos foram para o Dourado e 3.000 desses foram da Deborah Secco! Olhem que interessante!



Acho que a Deborah Secco está precisando ser contratada o mais rápido possível pela Rede Record, para trabalhar.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

"EU E O CARA DA PISCINA"



Hoje, em Porto Alegre, será lançado o novo curta-metragem do diretor William Mayer: "Eu e o cara da piscina". O filme retrata com sensibilidade os contornos da relação entre dois amigos, em que um deles - apaixonado pelo outro - refugia-se no mundo virtual para expor seu desejo. 

O lançamento do filme será no CineBancários às 19h, é alí na Rua General Câmara, 424, no Centro da Capital. Terá coquetel e logo a exibição do curta e making of.


O William Mayer já escreveu mais de mil roteiros para a TV Unisinos e foi responsável - recentemente - pela produção de dois episódios da série Histórias Extraordinárias da RBS TV, quais sejam: "Águas de Santo Antônio" e "Frente a Frente".

Na foto acima Matheus Almada, um dos dois atores do filme.

domingo, 4 de abril de 2010

DICA DE LEITURA - ACENOS E AFAGOS



Volto do feriadão, após muito sol e mar, para dar-lhes uma ótima dica de leitura.

João Gilberto Noll é um dos melhores escritores brasileiros sob o meu ponto de vista. Pouco reconhecido aqui no Rio Grande do Sul, Estado que faz tanta questão de valorizar imbecilidades que produz, mas que ao mesmo passo tem por tradição a demora por reconhecer seus gênios. No caso do fantástico Noll, tal demora é uma estupidez irremediável. Mas independente do Estado em que nasceu, o escritor já foi consagrado, por exemplo, cinco vezes com o Prêmio Jabuti nos anos de 1981, 1994, 1997, 2004 e 2005. Leia mais sobre ele aqui.

Seu romance ACENOS E AFAGOS ratifica meu conceito de que estamos diante de um escritor fabuloso. Uma produção literária de respiração densa, toda escrita em um único parágrafo e que exige do leitor quase que uma devoção, pois não é linear e as palavras brincam de forma empolgante para aqueles que amam a literatura.



ACENOS E AFAGOS tem um protagonista atormentado pelos seus desejos, pela sua libido sem limites. Um homem casado, pai de um adolescente, que simplesmente não consegue conter seus impulsos sexuais que, entre a distância do aceno ou a proximidade do afago, necessita ser vazado.

Não sou crítico literário e nem saberia sê-lo. Por isso devo me conter apenas a indicar essa obra fantástica de João Gilberto Noll através aqui do BLOG, espero que leiam e tomara que gostem.