domingo, 27 de março de 2011

EM DEFESA DE MARIA BETHÂNIA

Quem me conhece sabe: sou louco por Maria Bethânia. Não há nada que eu não tenha dela em DVD, CD e, agora, estou quase esgotando tudo o que a maior intérprete da música brasileira lançou em LP. Enfim, todos nós temos nosso ídolos musicais e Bethânia, sem dúvida, é um dos meus.

Lendo o jornal O Globo de hoje, me deparei com um texto de Caetano Veloso intitulado 'Também tenho fígado'. Resguardadas minhas resistências com relação a Caetano, achei por bem compartilhar com vocês um trecho do texto, para que reflitam sobre o massacre e a desmoralização que estão fazendo com uma artista incrível. Leiam:

"(...) Toda a grita veio com o corinho que repete o epíteto "máfia do dendê", expressão cunhada por um tal Tognolli, que escreveu o livro de Lobão, pois este é incapaz de redigir (não é todo cantor de rádio que escreve um "Verdade tropical"). Pensam o quê? Que eu vou ser discreto e sóbrio? Não. Comigo não, violão.

O projeto que envolve o nome de Bethânia (que consistiria numa série de 365 filmes curtos com ela declamando muito do que há de bom na poesia de língua portuguesa, dirigidos por Andrucha Waddington), recebeu permissão para captar menos do que os futuros projetos de Marisa Monte, Zizi Possi, Erasmo Carlos ou Maria Rita. Isso para só falar de nomes conhecidos. Há muitos que desconheço e que podem captar altíssimo. O filho do Noblat, da banda Trampa, conseguiu R$ 954 mil. No audiovisual há muitos outros que foram liberados para captar mais. Aqui o link. Por que escolher Bethânia para bode expiatório? Por que, dentre todos os nossos colegas (autorizados ou não a captar o que quer que seja), ninguém levanta a voz para defendê-la veementemente? Não há coragem? Não há capacidade de indignação? Será que no Brasil só há arremedo de indignação udenista? Maria Bethânia tem sido honrada em sua vida pública. Não há nada que justifique a apressada acusação de interesses escusos lançada contra ela. Só o misto de ressentimento, demagogia e racismo contra baianos (medo da Bahia?) explica a afoiteza. Houve o artigo claro de Hermano Vianna aqui neste espaço. Houve a reportagem equilibrada de Mauro Ventura. Todos sabem que Bethânia não levou R$ 1,3 milhão. Todos sabem que ela tampouco tem a função de propor reformas à Lei Rouanet. A discussão necessária sobre esse assunto deve seguir. Para isso, é preciso começar por não querer destruir, como o Brasil ainda está viciado em fazer, os criadores que mais contribuem para o seu crescimento. Se pensavam que eu ia calar sobre isso, se enganaram redondamente. Nunca pedi nada a ninguém. Como disse Dona Ivone Lara (em canção feita para Bethânia e seus irmãos baianos): "Foram me chamar, eu estou aqui, o que é que há?"

O texto completo está aqui.

PUT ME IN THE UNDERTOW

Hoje eu acordei meio 'take me river, carry me far'... e eu adoro acordar assim. 


River - Lights

out across cities I see buildings burn into piles
and watch the world in wonder, as mountains turn into tiles
and trees loosing their leaves and their faces becoming tired
i wish i could discover something that doesn't expire
come stumble me

take me river, carry me far
lead me river, like a mother
take me over to some other unknown
put me in the undertow



such other things that make a kingdom rumble and shatter
the same dynamic that another day would never matter
it really just depends on who's giving and who's receiving
and things that don't make sense are always a little deceiving
come and humble me



take me river, carry me far
lead me river, like a mother
take me over to some other unknown
put me in the undertow



i wanna go where you're going
a follower, following
changing, but never changed
claiming, but never claimed



take me river, carry me far
lead me river, like a mother
take me over to some other unknown
put me in the undertow

take me river, carry me far
lead me river, like a mother
take me over to some other unknown
put me in the undertow



segunda-feira, 21 de março de 2011

SANGUESSUGAS


Parem com as buzinas dos automóveis. Os faróis acesos queimando os olhos na estrada. O calor do asfalto. O som dos ônibus inquietos. A insônia das motocicletas e dos interfones. Esta fumaça, este ranço, as vírgulas, desliguem! Por favor, alcancem-me as reticências e o ponto final. Deem-me silêncio, espasmo, intervalo. Joguem sobre mim a quietude, a imensidão do vácuo existencial. Quero ouvidos moucos para o tagarelar desenfreado das caturritas humanas. Calem-se! Sumam todos! Alcem voo pra bem longe. Deixem-me existir no espaço entre as falas, naquele momento da inspiração, antes que cuspam novos verbos. Deixem-me residir no silêncio das palavras. Naquele instante antes dos aplausos. No exato momento em que, ao piscar, os olhos estão fechados. Ali, por favor, ali! Residente e domiciliado na folga da realidade. Quando se desiste de brincar, quando o sono vence, quando o amor hesita. Longe do que preenche. Estou exausto. Não aguento mais ter consciência coletiva. Me larguem. Quero bastar sozinho. Deixem-me! Sumam com as verdades verborrágicas e imbecis dos discursos vazios ou cheios que proferem. Produtores de lixo. Exploradores. Enlatados.
Obs.:
O quadro que compõe esta postagem é da pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954).

domingo, 13 de março de 2011

CHAMA O SÍNDICO!



Quando entrei para o Facebook, em 2005, a moda geral aqui no Brasil era o Orkut, com suas comunidades e scraps. Eu estava lá no Orkut também e, no Facebook tinha amigos de outros países, pouquíssimos daqui. É que em Nova Iorque, por exemplo, o Orkut não era conhecido e aqui perto mesmo, em Buenos Aires ou em Montevidéu, ninguém sabia o que era.

Muito já se falou em vantagens e desvantagens das redes sociais. Tal como ocorre com o Big Brother Brasil, por exemplo, muitos enchem a boca para criticar e/ou menosprezar, tentando através disso mostrar que seu nível cultural não comporta trivialidades dessa natureza. Claro, não há dúvida de que existe um exagero coletivo, uma transformação de determinados modos de agir e de valores por conta das redes sociais, que fizeram emergir quem, em carne e osso, não ‘sabia’ interagir.

Como em um baile de máscaras, o Facebook ‘protege’ alguns. Dá a determinadas criaturas a ilusão de que podem, de repente, usar de uma intimidade que não lhes foi concedida. Entendo que mesmo o Facebook sendo um espaço virtual, a minha liberdade vai terminar onde começa a de outrem. Sem ranços ou clichês. Acho que todas as liberdades ali, como na vida concreta, têm de ser respeitadas – mas – também, como na vida real, o traçado do bom-senso e o respeito aos princípios fundamentais não deve ser ofuscado pela sensação ilusória e covarde de estar ‘escondido’ atrás de um computador.


Assim foi responsabilizada – e muito bem responsabilizada – uma jovem que ofendeu o povo nordestino na campanha da Presidenta Dilma através do Twitter, por exemplo. A Internet não é e não deve ser uma ‘terra de ninguém’. Haverá um tempo em que RG será menos importante que ID?

Quem está nas redes sociais está sujeito à exposição, mas isso não é sinônimo de ser conivente com o fato de pessoas tomarem liberdades indevidas, ofenderem, ridicularizarem ou agredirem outras pessoas. Quando se fala em trazer o Direito para a Internet, pensa-se logo em sansões, penas, regras, prejuízos, multas ou, ainda, em tolhimento da liberdade de expressão. Bem, o Direito pode até ter nuances que comportam isso tudo, mas também – e isso é o mais importante – vem para assegurar, para compor, para proteger, para evitar abusos que firam a integridade dos indivíduos e muito mais.

Enfim, na verdade o que ocorre é que sou tremendamente favorável a legislações que regulamentem determinadas condutas no ciberespaço. É muito importante que o Direito olhe pela dignidade da pessoa humana e lhe dê segurança, mesmo nestes espaços virtuais. Temo que a violência velada e mascarada de alguns cidadãos através da Internet (das redes sociais) seja banalizada ou menosprezada.

O Facebook é um grande condomínio, onde todos nos tornamos vizinhos: precisamos logo chamar um síndico!