Sempre fui fã de José Saramago. Sempre o considerei um gênio raro da literatura mundial, muito particularmente. Digo particularmente por que tenho uma compreensão diferente da genialidade, ao menos diferente do senso comum e, ainda que alguns dos meus gênios particulares sejam gênios para o mundo também, eles mesmo assim são só os meus gênios.
Ler Saramago requer uma devoção, uma entrega, um ritmo diferente e poético. Sempre que o li – e agora falando isso sinto uma mistura de tristeza, náusea e inquietude – fiquei perplexo com seu poder de construir as narrativas de forma tão impressionante, envolvente e perfeita, junção de frases impecáveis, vontade de ler recitando. Já li tudo de Saramago, não há o que não tenha lido, tenho todos aqui ao meu lado. Talvez, justamente, seja isso o que esteja sentindo agora: uma profunda tristeza por não poder mais receber algo novo e transformador de José Saramago.
Quando um gênio morre, um gênio dos meus particulares, fico imaginando um mundo onde só eles residem. Quase que como a fantasia expressada em “Where the Wild Things Are” de Maurice Sendak e, confesso muito sinceramente, às vezes passo mais tempo lá do que aqui, curtindo minha semi-esquizofrenia, ao lado dos homens e mulheres que me constituem.
Para homenageá-lo, escondo-me atrás de outro português, uso Mário de Sá Carneiro:
Fim
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
“Dentro de nós há uma coisa que não tem nome. Essa coisa é o que somos”.
ResponderExcluirEle disse isso, e tem tudo a ver com teu blog.