QUANDO NASCE O AMOR

É estranha a sensação de um nascimento próximo. Assim como a morte, tão cheia de mistérios, o nascimento também possui seus caminhos ocultos.

Está chegando a hora do nascimento de minha primeira sobrinha – e afilhada –, tento imaginá-la, saber como será, de onde vem, que jeito e constituição vai ter. Sua personalidade e suas formas. Será linda, é claro, mas e os cabelos serão ondulados ou cairão lisos sobre o rosto impecável?

O nascimento, quando é pertinho da gente, provoca aquela sensação de impotência diante do desconhecido universo das energias. Todos nós fomos como ela está, como ela será. Um dia fomos gerados, nove meses (alguns um pouco mais ou um pouco menos) na barriga de uma mãe, mergulhados em líquidos de genética.

Minha avó está aqui em casa comigo, com 91 anos, esperando o nascimento da bisneta. Minha avó, tão cheia de vida, está a nove anos dos 100 anos. Enquanto isso minha sobrinha está terminando sua formação física no útero de minha única irmã. Talvez eu esteja falando de amor e nem saiba.

Estar diante do nascimento é tal e qual estar diante da morte. Tristeza ou alegria são outros quinhentos, falo de algo mais fundamental.

Sexta-feira, dia 04 de junho de 2010, vai nascer Gabriela. Quero que meus amigos de verdade enviem boas vibrações para que tudo dê certo, para que tudo seja o mais lindo possível.

Os quadros que compõem esta postagem são do fantástico Salvador Dalí.

UM FILME IMPERDÍVEL

Hoje assisti "Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo". Um filme ótimo que todos deveriam ver!

De acordo com a Revista Bravo:

"Uma história de amor que se tornou uma viagem. Uma viagem que se tornou uma história de amor". É assim que Marcelo Gomes entende seu filme em parceria com Karin Aïnuz "Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo" que estreia em maio.

O filme nasceu de uma compilação de imagens feitas em 1999 durante uma viagem de 40 dias que Gomes e Aïnuz fizeram ao sertão nordestino com uma vaga ideia de produzir um documentário. Somente em 2007 é que esses takes passaram a ser trabalhados para se tornar um longa de ficção.

O documentário, pensado inicialmente, foi lançado pelo Programa Rumos do Itaú Cultural com o nome "Sertão Acrílico Azul Piscina" e já compilava cenas gravadas durante a viagem que foram também usadas no filme, mas sem o enredo da história de amor contada pelo protagonista de "Viajo...", o geólogo José Renato.

Em sua versão ficcional as imagens se tornaram a viagem de um geólogo, vivido pelo ator Irandhir Santos, ou melhor, por sua voz, já que não aparece na tela. Enquanto avalia o possível percurso de um canal que será construído na região ele se contamina pela sensação de desamparo, pela saudade da ex-mulher e pela vontade de voltar pra casa. Mas decide ir em frente, seguir viagem, na esperança que esse percurso mude seus sentimentos.

Fui ver o filme com muito receio. Justamente por tratar-se de um filme todo "narrado", achei que poderia ser chato ou cansativo. Não há a menor possibilidade. O filme, desde os seus primeiros minutos, prende a gente com uma mistura de imagem, voz, música, poesia. É lindo, um belíssimo filme nacional. Realmente imperdível, para quem gosta de um bom cinema. 

O MISTÉRIO DA VIDA

OS DEGRAUS

Não desças os degraus do sonho

Para não despertar os monstros.

Não subas aos sótãos - onde

Os deuses, por trás das suas máscaras,

Ocultam o próprio enigma.

Não desças, não subas, fica.

O mistério está é na tua vida!

E é um sonho louco este nosso mundo...

Mario Quintana - Baú de Espantos

INDECIFRÁVEL

Para todos que me conhecem, não é novidade: sou fanático por Maria Bethânia. A grande intérprete da música brasileira de todos os tempos. Maria Bethânia para mim é o fogo, é a grande Diva, não no sentido banalizado. Agora que estou viciado em comprar LPs, já comprei uns oito dela e em cada um, encontro ou reencontro uma cantora impecável, dona de uma voz tão intensa quanto sua presença.

Caetano Veloso escreveu:

O perfil de Bethânia é um dos mais belos perfis de mulher que já houve. Sua testa avança numa convexidade incomum e o homem superior logo nota que ali se guarda um cérebro incomum. Sob a testa, cujo arrojo estanca na linha descendente da sobrancelha, que é como que uma versão suave da máscara da tragédia, desenha-se o nariz espantoso: é o nariz do chefe indígena norteamericano, é o nariz da bruxa, o nariz de Cleópatra e, no entanto, é o único nariz assim - os outros são apenas uma referência a ele. Se esse nariz, na vanguarda de uma batalha que o homem superior adivinhou tramar-se no cérebro por trás daquela testa, aponta orgulhosamente para o futuro da beleza, a boca parece desmentir a armada: emergindo a um tempo brusca e suavemente à flor do visível, ela anuncia o mel que destilará e consumirá: em palavras, em beijos, em mel. Sim, porque se os olhos traem o corpo por serem uma revelação do espírito inscrita na carne, a boca trai o corpo por ser uma revelação do próprio corpo. Insondáveis são os mistérios do espírito e olhos que vêem, inquietam-se diante de olhos que vêem. Mas os mistérios do corpo não são menos insondáveis e a boca, esse transbordamento do lado de dentro de um corpo vivo para o seu exterior, é um pequeno escândalo permanente. Assim, a boca de Maria Bethânia, vista aqui de perfil, primeiro parece negar e depois explica e aprofunda a informação plástica estampada na parte superior da sua cabeça: traduz em doçura e amargor o que fora enunciado em dureza e alegria. O que seu queixo arremata numa curva fresca de felicidade infantil. Que nos dá as costas para falar com alguém do outro lado e depois se volta, agora de frente pra nós, indecifrável.

Bethânia é destas criaturas que me conectam com a vida, para ela: eternidade! Bom sábado a todos. 

DANCE WITH ME

Hoje a Amanda disse que lê o meu BLOG. Achei legal porque nunca sei quem realmente vai ler e o que vai achar das coisas que coloco aqui.

Mas saber que a Amanda lê, por exemplo, já faz eu querer continuar compartilhando, através do BLOG, coisas que eu acho bonitas ou que eu gostaria que outras pessoas tomassem conhecimento.

Por exemplo, hoje relendo um velho livro do Fernando Pessoa, na ida para o trabalho, reencontrei esse poema lindo do Alberto Caeiro, heterônimo do poeta, datado de 01 de outubro de 1917:

Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento,
Assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade.


Mas, como a realidade pensada não é a dita mas a pensada,
Assim a mesma dita realidade existe, não o ser pensada.


Assim tudo o que existe, simplesmente existe.
O resto é uma espécie de sono que temos,
Uma velhice que nos acompanha desde a infância da doença.

Chegando em casa e fuçando em uns arquivos meus, achei esse vídeo que adoro (Nouvelle Vague):

Com isso encerro a quarta-feira, certo de que se ao menos a Amanada ler, ver e ouvir o que aqui coloquei, já vai ter sido muito bacana.

FELIZ DIA DAS MÃES

Quando vi Caetano e Bethânia com Dona Canô, achei que seria uma forma linda de homenagear todas as mães.

Olhem que lindo:

PORTUGUESES PELA LAICIDADE

Senhor Presidente da República Portuguesa,

Nós, cidadãs e cidadãos da República Portuguesa, motivados pelos valores da liberdade, da igualdade, da justiça e da laicidade, manifestamos, através da presente carta, o nosso veemente protesto contra as condições – oficialmente anunciadas – de que se revestirá a viagem a Portugal de Joseph Ratzinger, Papa da Igreja Católica.

Embora reconhecendo que o Estado português mantém relações diplomáticas com o Vaticano e que a religião católica é a mais expressiva entre a população nacional, não podemos deixar de sublinhar que ao receber Joseph Ratzinger com honras de chefe de Estado ao mesmo tempo que como dirigente religioso, o Presidente da República Portuguesa fomenta a confusão entre a legítima existência de uma comunidade religiosa organizada, e o discutível reconhecimento oficial a essa confissão religiosa de prerrogativas estatais, confusão que é por princípio contrária à laicidade.

Importa ter presente que o Vaticano é um regime teocrático arcaico que visa a defesa, propaganda e extensão dos privilégios temporais de uma religião, e que não reúne, de resto, os requisitos habituais de população própria e território para ser reconhecido como um Estado, e que a Santa Sé, governo da Igreja Católica e do «Estado» do Vaticano, não ratificou a Declaração Universal dos Direitos do Homem – não podendo portanto ser um membro de pleno direito da ONU – e não aceita nem a jurisdição do Tribunal Penal Internacional nem do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, antes utilizando o seu estatuto de Observador Permanente na ONU para alinhar, frequentemente, ao lado de ditaduras e regimes fundamentalistas.

Desejamos deixar claro que, se em Portugal há católicos dos quais uma fracção, mais ou menos importante, se regozijará com a visita de Joseph Ratzinger, há também católicos e não católicos para quem o carácter oficial da visita papal, o seu financiamento público e a tolerância de ponto concedida pelo Governo, são agressões perpetradas contra os princípios de laicidade do poder político que a própria Constituição da República Portuguesa institui.

Esta infracção da laicidade a que estão constitucionalmente vinculadas as autoridades republicanas torna-se ainda mais gritante e deletéria quando consideramos que se celebra este ano o Centenário da Implantação da República, de cujo legado faz parte o princípio de clara separação entre Estado e Igreja, contra o qual atentará qualquer confusão entre homenagens a um chefe de Estado e participação oficial dos titulares de órgãos de soberania em cerimoniais religiosos.

Declaramos também o nosso repúdio pelas posições veiculadas pelo Papa em matéria de liberdade de consciência, igualdade entre homens e mulheres, autodeterminação sexual de adultos, e outras matérias políticas.

Porque nos contamos entre esses cidadãos que entendem que a laicidade da política é condição fundamental das liberdades e direitos democráticos em cuja defesa e extensão estão apostados, aqui deixamos o nosso protesto e declaramos a Vossa Excelência o nosso propósito de o mantermos e alargarmos através de todos os meios de expressão e acção ao nosso alcance enquanto cidadãos activos da República Portuguesa.

ASSINAR ESTA PETIÇÃO

A PEDOFILIA DE DOM DADEUS

O medieval Arcebispo de Porto Alegre, Dom Dadeus Grings (foto abaixo), é muito mais estúpido e bizarro do que já se supunha. Senão vejamos:

"A sociedade atual é pedófila, esse é o problema. Então, facilmente as pessoas caem nisso. E o fato de denunciar isso é um bom sinal. (...) Quando a sexualidade é banalizada, é claro que isso vai atingir todos os casos. O homossexualismo é um caso. Antigamente não se falava em homossexual. E era discriminado. Quando começa a (dizer) que eles têm direitos, direitos de se manifestar publicamente, daqui a pouco vão achar os direitos dos pedófilos. (...) A Igreja tem 0,2% de culpa nestes casos, mas, ainda assim, os outros 99,8% não têm o mesmo destaque que a Igreja. Acho que isso é uma forma de querer prejudicar a Igreja que promove a castidade."

A sociedade atual é pedófila? Os homossexuais não podem ter direitos e nem podem manifestar-se publicamente? Em verdade o Arcebispo de Porto Alegre tão somente é um papagaio do pensamento do Vaticano, de uma Igreja assassina (em seu sentido mais amplo), ele é o porta-voz de uma fé intolerante e vazia, já históricamente tão conhecida. Não consigo comentar nada mais a respeito disso, tudo me parece tão absurdo.

TUDO PODE DAR CERTO

Faço parte do público fiel de Woody Allen, sempre ansioso por novas velhas paranóias do genial diretor. Hoje fui assistir Whatever Works, uma comédia excelente, que vale muito a pena ser assistida.

Os diálogos inteligentes, as piadas ácidas, o roteiro impecável, isso é Woody Allen, sempre! É impressionante como ele consegue ter uma produção tão grande e tão brilhante, fazendo um filme por ano, Woody Allen – assim como o incrível Clint Eastwood – produz muito e, por óbvio, a sorte é nossa!

Boris (Larry David), o personagem principal do filme, para mim, é um dos personagens mais engraçados dos últimos tempos, um alterego do cineasta, é um homem sagaz e amargurado, um físico aposentado, que acaba tendo um envolvimento com uma menina vinda do interior, Melody (Evan Rachel Wood). Não sei fazer sinopse e nem quero fazer, mas queria conseguir escrever o quanto é um prazer ver algo tão engraçado, bem escrito e bem dirigido como um filme de Woody Allen.

Não percam!

O FAMOSO TEMPO

Depois de duas semanas com provas (ontem fiz a última), poderei finalmente entrar em contato com outras pessoas que não sejam Grigori Perelman, Jürgen Habermas, Eugenio Raúl Zaffaroni, Alessandro Baratta, etc.

O meu BLOG converteu-se, devido ao meu escasso tempo, em um espaço de reprodução de algumas coisas que eu gosto, mas sem necessariamente o acompanhamento de uma crítica fundamentada. Não gosto disso na verdade, acho importante refletir sobre as coisas que quero postar aqui e não simplesmente recortar e colar. Mas o famoso tempo tem me consumido de tal forma que quando o tenho ocioso, aproveito para dormir.

Todavia estou tranquilo e feliz, não reclamo e nem brigo com o tempo.

Hoje quando acordei assisti um curta-metragem chamado Validation de Kurt Kuenne. Achei realmente muito legal a história, interessante mesmo, pois é recheado de sentidos, alguns bem sutis e outros bem expostos.

O que mais gosto em curtas desse tipo é justamente isso: ter o que dizer, saber o que dizer, refletir sobre como dizer. Particularmente acho que Kuenne consegue fazer isso muito bem, trata-se de um roteiro sólido, redondo.

No mais, achei Alice in Wonderland de Tim Burton bem chato, mas bem chato mesmo! Talvez a versão mais careta e aborrecedora que já fizeram de Alice. Até mesmo Johnny Depp está ruim. Uma versão colorida de Jack Sparrow, com os mesmos trejeitos e jeito de andar. Um porre!

Hoje verei o novo filme do maravilhoso Woody Allen, Whatever Works. Depois publico algo sobre ele aqui, para compartilhar a minha impressão com vocês.

Bom final de semana a todos e todas!