domingo, 25 de julho de 2010

ON JUPITER AND MARS



Eu aceito a melancolia como parte da vida. Assim como a felicidade, ela às vezes vem e, na mesma medida, não tem medida exata. Às vezes machuca, às vezes só afaga o rosto querendo marcar presença na existência. Em dias de chuva como hoje, por exemplo, a melancolia não vem para machucar, para ferir, desolar, arrancar. Em dias como este, a melancolia vem quase que fagueira, suave como o gosto de uma lágrima. Em dias assim dá vontade que alguém cante pra mim:

Oh it's often use many words
to say a simple thing.
It takes thought and time and rhyme,
to make a poem sing.
With music and words I've been playing
for you I have written a song.
To be sure that you'll know what I'm saying,
I'll translate as I go along.
Fly me to the moon,
and let me play among the stars.
Let me see what spring is like
on Jupiter and Mars.
In other words,
Hold my hand.
In other words,
Darling, kiss me.
Fill my heart with song,
and let me sing forevermore.
You are all I long for,
all I worship and adore.
In other words,
please be true.
In other words,
I love you.
Fill my heart with song
and let me sing forevermore
you are all I long for
all I worship and adore.
In other words,
please be true.
In other words,
I love you.

A música é In Other Words (Fly Me To The Moon) que, particularmente, amo na voz da incrível Zizi Possi, e a foto que compõe esta postagem é minha, em uma das andanças por Bagé.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

A POESIA ESTÁ ESCONDIDA


No mundo atual a poesia recolheu suas asas. Percebo que cada vez menos se lê poesia. Mas é um hábito e um gosto que nunca perdi, que não consegui deixar de lado. Óbvio, talvez por não existirem muitos poetas jovens, eu acabe sempre reverenciando os poetas clássicos ou, às vezes, acabe surpreendido por algum poeta 'novo'. Novo para mim.

Foi o que me aconteceu esta semana. Deparei-me com Nazım Hikmet Ran. Um poeta turco que faleceu em 1963 e que passou uma parte significativa de sua vida preso, por razões políticas que envolviam a confusa Turquia na época em que viveu.

Compartilho com vocês uma parte de um lindo poema dele, chamado: Carta para minha mulher.

Quero morrer antes de você.
Você acha que aquele que vai depois
encontra o que foi primeiro?
Eu acho que não.
O melhor seria me cremar
e me colocar num vaso
sobre o aparador de sua lareira.
E garanta que o vaso
seja cristalino,
assim você pode me ver lá dentro…
pode ver meu sacrifício:
desisti de ser terra,
desisti de ser uma flor,
para ficar somente junto a você.
E eu me tornei pó
para viver contigo.
Assim, quando você morrer,
você pode entrar aqui no meu vaso
e então viveremos juntos,
suas cinzas com as minhas,
até que uma noiva tonta
ou um neto rebelde
nos jogue fora…
Mas
a essa altura
já estaremos
de tal forma
misturados
que mesmo vertidos nossos átomos
cairão lado a lado.
Mergulharemos na terra juntos.
E se um dia uma flor selvagem
encontrar água e brotar desse pedaço de terra,
sua haste terá
por certo dois botões:
um será você,
o outro, eu.

Não é que eu
esteja para morrer.
Quero criar ainda outro filho.
Estou cheio de vida.
Meu sangue é quente.
Viverei ainda muito, muito tempo -
ao teu lado.
(...)

domingo, 18 de julho de 2010

PEQUENAS EPIFANIAS


A foto acima foi tirada por volta de 1993 (A Lisi vai gostar por que foi lá na cidade dela!). A ordem é: Olavo, eu e Gabriel, meus primos e grandes amigos. Achei interessante colocá-la aqui porque representa um pouco a semana que tive: de sensações verdadeiras, bons amigos, vinho, saudades e felicidades. Desde segunda-feira, até hoje, todos os dias, encontrei amigos muito especiais que no decorrer do ano, pelas aulas, trabalhos, estudos, etc. vou deixando (infelizmente) de lado.

Foram sessões de cinema, vinhos (acho que todos os dias! hehehehe), pizza, risoto, DVD, petiscos, conversas, risadas, descobertas, silêncios, etc. Por isso, para mim, essa foto aí em cima acaba contendo essa felicidade toda registrada.

Ainda por cima essa semana reencontrei uma amiga cubana com a qual não falava há uns cinco anos ou mais! Tive com ela uma história linda desde os 9 ou 10 anos. Muitas cartas trocadas. Cuba-Brasil, mil descobertas e fantasias! Ela acabou de formar-se e está dando aula na Universidade de Havana, fiquei muito emocionado. Acho que ainda não caiu a ficha do tempo e da beleza desse reencontro. Ela faz parte da geração Y, chama-se Yiset. Vamos agora colocar todos os assuntos possíveis e impossíveis em dia! Até nos encontrarmos pessoalmente, o que cada vez torna-se mais possível de acontecer.

Enfim, boa semana a todos e todas!

Abaixo uma frase ótima do grande Caio F.:

"Não, meu bem, não adianta bancar o distante: lá vem o amor nos dilacerar de novo..."

(Extraído do livro Pequenas Epifanias).


sábado, 10 de julho de 2010

AS VIOLÊNCIAS


Às vezes tento entender o que são os valores. Não gosto desse termo. Na minha cabeça ele ficou muito associado aos valores cristãos, e não gosto dos valores cristãos, ao menos não da forma como são passados e trabalhados na sociedade.

Mas quando vejo casos terríveis como o do jogador do Flamengo que mandou matar a mãe de seu filho (que a imprensa adora chamar de ‘amante’), quando leio sobre os detalhes de como o assassinato se deu, começo a refletir sobre o que um ser humano como o goleiro Bruno tem ou não tem. O que ele terá perdido ou ganhado?

Alguma coisa a sociedade está perdendo, de muito significativa e pouco concreta. Estamos regredindo a tempos medievais ou avançando rumo a novos tempos e conceitos? Assassinatos, estupros, assaltos, até quanto nós vamos aguentar? Há uma medida de tolerância? Ou, pior, até onde nossos estômagos já se acostumaram a sucessivas mortes? Os assaltos não nos comovem mais, já nos acostumamos à violência no trânsito, às violências domésticas, ao racismo, às discriminações sexuais, etc. Tudo isso é a quantidade se apropriando da humanidade (em seu sentido estrito).

Pior são aquelas pessoas que dizem: pois é, horrível assassinato, mas tu sabias que a menina fez alguns filmes pornôs? Outro dia: ah! era uma piriguete, corria atrás de vários jogadores! E por aí vão as atenuantes que a sociedade põe sobre o assassino ou sobre si mesma. A morte de uma atriz de filmes pornôs é menos violenta que a de uma médica? Por quê? Claro, a sociedade continua sendo hipócrita até mesmo diante dos crimes mais brutais, não adianta.

Não consigo me acostumar nunca diante da violência. Seja ela explícita ou velada. Tudo ainda me choca muito e acho bom que me choque! Quero usar a profissão que escolhi, justamente, para não me acomodar diante da covardia social que vem imperando. Saliente-se que não falo de penas, de medidas mais punitivas ou menos punitivas para o assassino. Estou falando das implicações sociais que a hediondez vem provocando ou, justamente, não vem provocando.

O assassinato da jovem Eliza deve convidar-nos a uma reflexão (jurídica ou não) sobre a sociedade. Seja através (à luz) dos Princípios Constitucionais – Direitos Fundamentais, ou dos ditos 'valores' sociais. O que esse assassinato fala sobre nós mesmos e nosso tempo? Quais humanidades estão sendo violadas e onde está o miolo disso? É essência humana ou é problema de Estado?

sexta-feira, 9 de julho de 2010

QUE DELÍCIA



É preciso estar sempre embriagado. Isso é tudo: é a única questão.
Para não sentir o horrível fardo do Tempo que lhe quebra os ombros e o curva para o chão, é preciso embriagar-se sem perdão.
Mas de que? De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser. Mas embriague-se.
E se às vezes, nos degraus de um palácio, na grama verde de um fosso, na solidão triste do seu quarto,  você acorda, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, pergunte ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunte que horas são e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio lhe responderão:
"É hora de embriagar-se! Para não ser o escravo mártir do Tempo, embriague-se; embriague-se sem parar! De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser".


Na foto estão Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa e Gilberto Gil, nos tempos dos Doces Bárbaros, que eu amo!

terça-feira, 6 de julho de 2010

FRIDA KAHLO

Frida estaria hoje completando 103 anos! Ultimamente tenho tentado fazer com que as coisas na minha vida não sejam mais em vão ou que, de certa forma, daqui a algum tempo, eu possa atribuir um valor ao que estou vivendo agora e não mais me lamentar por tempos perdidos. Isso às vezes dá uma ansiedade, uma vontade de viver várias coisas ao mesmo tempo e quanto mais damos sentido ao tempo, razão a ele, parece que mais rápido ele flui. Frida morreu com menos de 50 anos, deitada em sua clássica cama, cheia de intensidade e amarguras. Não saberia muito bem como homenageá-la. Apenas registro que sou fascinado por esta vida, pela relação que teve com Diego Rivera, pelas suas cores e suas dores.


"Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade."
Frida Kahlo (1907-1954)

quinta-feira, 1 de julho de 2010

DESTE MUNDO E DO OUTRO


Hoje fiz minha última prova! Aprovei em todas as disciplinas. Reflexo de minha disposição diante de uma Faculdade tão diferenciada, com professores tão fantásticos, onde fiz amigos tão queridos. Reflexo de todas as minhas mudanças, de tudo o que venho plantando desde o início do ano.

Fica aqui esse registro, como reconhecimento do meu tempo. Que ano lindo! 2010 tem sido particularmente um ano incrível para mim! Acho que já falei isso, né? (risos) Valeu a todos os meus amigos que são mais do que responsáveis por tudo o que estou sentindo agora. Maria Bethânia, em um de seus shows, recitando Guimarães Rosa, disse: a felicidade se acha é em horinhas de descuido. Pois bem, ando tendo muitas horinhas de descuido!

Isso tudo me fez lembrar Saramago:

Aceitemos então que estamos sozinhos e, a partir daí, façamos a nova descoberta de que estamos acompanhados – uns pelos outros. Quando pusermos os olhos no céu estrelado, com a furiosa vontade de lá chegar, mesmo que seja para encontrar o que não é para nós, mesmo que tenhamos de resignar-nos à humilde certeza de que, em muitos casos, uma vida não bastará para fazer a viagem – quando pusermos os olhos no céu, repito, não esqueçamos que os pés assentam na terra e que é sobre esta terra que o destino do homem (esse nó misterioso que queremos desatar) tem de cumprir-se. Por uma simples questão de humanidade.

In Deste Mundo e do Outro, Ed. Caminho, 3.ª ed., pp. 216-217.


A foto bem lá de cima é do meu predileto e esta aqui de cima não sei quem tirou, mas é do Saramago, catei no Google.