quinta-feira, 22 de julho de 2010

A POESIA ESTÁ ESCONDIDA


No mundo atual a poesia recolheu suas asas. Percebo que cada vez menos se lê poesia. Mas é um hábito e um gosto que nunca perdi, que não consegui deixar de lado. Óbvio, talvez por não existirem muitos poetas jovens, eu acabe sempre reverenciando os poetas clássicos ou, às vezes, acabe surpreendido por algum poeta 'novo'. Novo para mim.

Foi o que me aconteceu esta semana. Deparei-me com Nazım Hikmet Ran. Um poeta turco que faleceu em 1963 e que passou uma parte significativa de sua vida preso, por razões políticas que envolviam a confusa Turquia na época em que viveu.

Compartilho com vocês uma parte de um lindo poema dele, chamado: Carta para minha mulher.

Quero morrer antes de você.
Você acha que aquele que vai depois
encontra o que foi primeiro?
Eu acho que não.
O melhor seria me cremar
e me colocar num vaso
sobre o aparador de sua lareira.
E garanta que o vaso
seja cristalino,
assim você pode me ver lá dentro…
pode ver meu sacrifício:
desisti de ser terra,
desisti de ser uma flor,
para ficar somente junto a você.
E eu me tornei pó
para viver contigo.
Assim, quando você morrer,
você pode entrar aqui no meu vaso
e então viveremos juntos,
suas cinzas com as minhas,
até que uma noiva tonta
ou um neto rebelde
nos jogue fora…
Mas
a essa altura
já estaremos
de tal forma
misturados
que mesmo vertidos nossos átomos
cairão lado a lado.
Mergulharemos na terra juntos.
E se um dia uma flor selvagem
encontrar água e brotar desse pedaço de terra,
sua haste terá
por certo dois botões:
um será você,
o outro, eu.

Não é que eu
esteja para morrer.
Quero criar ainda outro filho.
Estou cheio de vida.
Meu sangue é quente.
Viverei ainda muito, muito tempo -
ao teu lado.
(...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário