sábado, 10 de julho de 2010

AS VIOLÊNCIAS


Às vezes tento entender o que são os valores. Não gosto desse termo. Na minha cabeça ele ficou muito associado aos valores cristãos, e não gosto dos valores cristãos, ao menos não da forma como são passados e trabalhados na sociedade.

Mas quando vejo casos terríveis como o do jogador do Flamengo que mandou matar a mãe de seu filho (que a imprensa adora chamar de ‘amante’), quando leio sobre os detalhes de como o assassinato se deu, começo a refletir sobre o que um ser humano como o goleiro Bruno tem ou não tem. O que ele terá perdido ou ganhado?

Alguma coisa a sociedade está perdendo, de muito significativa e pouco concreta. Estamos regredindo a tempos medievais ou avançando rumo a novos tempos e conceitos? Assassinatos, estupros, assaltos, até quanto nós vamos aguentar? Há uma medida de tolerância? Ou, pior, até onde nossos estômagos já se acostumaram a sucessivas mortes? Os assaltos não nos comovem mais, já nos acostumamos à violência no trânsito, às violências domésticas, ao racismo, às discriminações sexuais, etc. Tudo isso é a quantidade se apropriando da humanidade (em seu sentido estrito).

Pior são aquelas pessoas que dizem: pois é, horrível assassinato, mas tu sabias que a menina fez alguns filmes pornôs? Outro dia: ah! era uma piriguete, corria atrás de vários jogadores! E por aí vão as atenuantes que a sociedade põe sobre o assassino ou sobre si mesma. A morte de uma atriz de filmes pornôs é menos violenta que a de uma médica? Por quê? Claro, a sociedade continua sendo hipócrita até mesmo diante dos crimes mais brutais, não adianta.

Não consigo me acostumar nunca diante da violência. Seja ela explícita ou velada. Tudo ainda me choca muito e acho bom que me choque! Quero usar a profissão que escolhi, justamente, para não me acomodar diante da covardia social que vem imperando. Saliente-se que não falo de penas, de medidas mais punitivas ou menos punitivas para o assassino. Estou falando das implicações sociais que a hediondez vem provocando ou, justamente, não vem provocando.

O assassinato da jovem Eliza deve convidar-nos a uma reflexão (jurídica ou não) sobre a sociedade. Seja através (à luz) dos Princípios Constitucionais – Direitos Fundamentais, ou dos ditos 'valores' sociais. O que esse assassinato fala sobre nós mesmos e nosso tempo? Quais humanidades estão sendo violadas e onde está o miolo disso? É essência humana ou é problema de Estado?

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