As lacunas não estão ali como vãos nulos. São intervalos, espaços recheados de muito mais do que se poderia registrar. Assim são os nossos brancos criativos. Assim são os silêncios. Assim é a saudade. Sou refém dessas intermitências.
Quando me posto diante do computador para escrever sobre algo, ou para alguém, e de repente não consigo, sei que isso não é ruim. Não falar não é sinônimo de não ter o que dizer. A verborragia não diz nada, a gente sabe.
Já tenho em mim um breque inconsciente. Quando começo a falar demais eu sei: estou perdendo o sentido. Talvez por isso eu goste tanto de fotografias. Elas revelam um instante que, parado e mudo, diz. E que bonito é dizer sem falar. Compartilhar o silêncio com naturalidade é, sem dúvida, a maior expressão de uma intimidade mútua.
Em tempos acelerados, cheios de redes sociais capazes de comportar quaisquer expressões verbais em poucos ou muitos caracteres, o que vem restando em mim são as imagens, os movimentos corporais, os cheiros das coisas. Palavras são quadradas demais ou – talvez melhor – são enquadradas demais. Tu, que agora me lês, onde estás colocando isso? Em mim ou em ti? Agora, olhe para as imagens que compõem esta postagem. Para onde elas vão?
Rubem Alves, que me foi enviado por uma amiga no exato momento em que eu colocava o ponto de interrogação da frase acima, diz:
"O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: ‘Se eu fosse você’. A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina. Não aprendi isso nos livros. Aprendi prestando atenção."
Hoje pensei muito no silêncio: o silêncio é um privilégio.
Por fim, compartilho com vocês o trailer de um belíssimo filme uruguaio que vi no domingo. Chama-se "El cuarto de Leo", vejam:
A foto lá de cima foi tirada por Andy Warhol e a segunda por David LaChapelle.
Sou um homem das "falas", mas digo muito mais quando estou em silêncio.
ResponderExcluirmeu querido!
ResponderExcluirnão imaginas o quanto este teu post me tocou, e o quanto me identifiquei com ele......tenho certeza que sabes o quanto sou criticada e mal interpretada por ser "silenciosa".
"Quando começo a falar demais eu sei: estou perdendo o sentido." Muito obrigada pelas tuas sábias e sensíveis palavras! Vou dormir mais leve....e mais feliz!
"enjoy the silence" não é apenas uma maravilhosa canção - é, isso sim, um excelente ponto de vista.
ResponderExcluirPerfeito! Assim como o silêncio!
ResponderExcluirLindo ! Uma vez perguntaram ao meu pai como se aprendia a escrever bem e ele respondeu que escrever todos poderiam aprender , mas para escrever bem era preciso "pensar bem" e deixar fluir o pensamento. Este texto é isto aí .
ResponderExcluirCompartilhar o silêncio com naturalidade é, sem dúvida, a maior expressão de intimidade mútua.
ResponderExcluirescuchar al otro es bonito, mas escuchar el silencio del otro es irremplazable. Gracias Rodrigo.
ResponderExcluirTabare