sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
DOIS MIL E ONZE
Passagem do ano
Carlos Drummond de Andrade
O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgará papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com
sinfonia e coral,
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.
O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e sua memória,
um olho e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus...
Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão esperás amanhecer.
O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles... e nenhum resolve.
Surge a manhã de um novo ano.
As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.
In: A rosa do povo (1945).
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
LULA, VAI FAZER MUITA FALTA
Após oito anos de governo, o que resta absolutamente comprovado através do Presidente Lula, é que o maior inimigo das transformações políticas, sociais e culturais é o nosso próprio preconceito.
O Brasil não teria avançado tanto se, em 2002, nós tivéssemos agido como a atriz Regina Duarte, por exemplo. Tomada de medo e preconceito (o que em alguns casos perpassa o ódio), ela rejeitou Lula em TV aberta e teve o apoio de um número significativo de pessoas. Medo do que ele é? Do que ele representa aos privilegiados? Do que ele poderia fazer com o poder?
Quem, sentado em casa, poderia imaginar um homem de origem tão simples, ex-metalúrgico, gerindo uma nação tão rica e poderosa como o Brasil? Hoje, falar em origem simples chega a ser clichê, mas antes de Lula isso era pouco provável, tanto quanto rejeitável.
Refletir sobre o Presidente Lula e sua trajetória nos últimos oito anos é pensar, também, em como agimos diante do que nos é ‘diferente’. Os atos de preconceito nada mais são do que rejeição ao desconhecido. Uma assinatura da nossa ignorância.
Então, o nosso Presidente Lula precisou fazer um governo histórico e excelente para provar à população que sua origem e sua fala ‘incorreta’ não representam propriamente a sua vontade política ou a sua capacidade de transformação. O ex-metalúrgico, tradicionalmente ridicularizado pela mídia e pelas classes abastadas, deixa o governo daqui a dois dias como o Presidente mais bem aprovado do mundo. Sim, do mundo.
Lidou e lidará até o dia 31 de dezembro de 2010 com velhos ranços que o estigmatizaram como bêbado e burro. Não poderia ser uma unanimidade. Mas, para mim, sai do governo como a prova inequívoca de que os juízos de valor são frágeis demais para serem tomados como definitivos.
Os preconceitos contra o Presidente foram sociais e/ou culturais. Mas quantas outras pessoas não conseguem sequer conquistar espaços (ou conseguem a duras marteladas) por conta de preconceitos raciais, sexuais e religiosos, por exemplo? Lula, até o último dia de governo nos ensina, da forma mais digna possível, o quando podemos ser diferentes e – mesmo assim – caminhar juntos. Mostra-nos, através de seus atos, que pobres, incultos e burros, são aqueles que não conseguem enxergar nada além do pré-estabelecido. Vai fazer muita falta.
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
FELIZ NATAL
Amigos e amigas: desejo que neste Natal a gente reflita bastante para tentar ser menos capitalista, menos moralista, menos vigarista, menos egoísta, menos pessimista, menos sexista, menos racista, menos mercantilista, menos machista e tente ser muito mais surrealista, mais ativista, mais otimista, mais socialista e mais abolicionista, ok?
Feliz Natal!
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
QUE VENHAM AS FÉRIAS!
Depois de certa ausência, aqui estou de volta ao BLOG. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Sete provas nas últimas duas semanas. Agora me resta curtir as férias e aproveitar para colocar minhas leituras em dia e para ler alguns jornais: estive fora do mundo.
Mas os jornais lerei com moderação. O excesso de informações do mundo globalizado me angustia. Em que medida me interessa saber que um vulcão eclodiu no México ou, ainda, qual a importância de eu saber que um avião despencou no Paquistão? Ora, por favor, as coisas parecem não ter mais fronteiras. Logo eu que nasci em uma, sinto falta delas. Saber de tudo isso não me torna mais humano.
Como, por exemplo, aquele resgate dos mineiros chilenos. Não acompanhei muito, mas foi uma comoção nacional aquilo! Ao vivo, todos os jornais acompanhando, não se falava em outra coisa em todas as espécies de mídia (saiu um! saiu dois! agora mas um!). Tudo bem, pode ter sido algo espetacular tal salvamento, mas para mim é excesso, é desvio, é chatice pura. O que quero eu com os mineiros do Chile se aqui na rua do lado, em frente a um supermercado, tem uma família inteira (sim, inteira: mãe, pai e quatro filhos) morando na rua? Cadê o resgate pra eles?
Por favor, me poupem de eclosões na Ásia, matança na África, roubalheira na Europa. Isso tudo para mim é spam e meu cérebro tem filtrado há tempos.
Daí quando acontece algo nacionalmente relevante, nós já estamos saturados, cheios de informações, sem ânimo para comemorar ou questionar; para elogiar ou criticar. Por que ontem foi a invasão dos morros cariocas, mas amanhã vai ser a invasão dos morros da Chechênia. O jornalismo globalizado não tem mais critérios: tudo é informação, tudo é pauta.
Então, nas minhas férias, vou ler - com muita parcimônia - alguns jornais e colocar, de verdade, as leituras boas que me estão pendentes em dia. Vou tomar aquela cervejinha no fim do dia e ver a lua nascer, é lindo demais! Dar bola pros meus amigos, acender as luzes da minha árvore de Natal, colocar as roupas na máquina e depois estender, de repente fazer umas jantinhas, passar verniz naquele móvel, pregar aquele quadro. Enfim, todas essas coisas que - durante o ano letivo - as 24 horas do dia não dão conta de permitir que façamos.
C´est la vie! Que venham as férias! Que delícia é ter as noites livres!
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
AYER
Ayer
Ayer pasó el pasado lentamente
con su vacilación definitiva
sabiéndote infeliz y a la deriva
con tus dudas selladas en la frente
ayer pasó el pasado por el puente
y se llevó tu libertad cautiva
cambiando su silencio en carne viva
por tus leves alarmas de inocente
ayer pasó el pasado con su historia
y su deshilachada incertidumbre/
con su huella de espanto y de reproche
fue haciendo del dolor una costumbre
sembrando de fracasos tu memoria
y dejándote a solas con la noche.
Mario Benedetti
Ayer pasó el pasado lentamente
con su vacilación definitiva
sabiéndote infeliz y a la deriva
con tus dudas selladas en la frente
ayer pasó el pasado por el puente
y se llevó tu libertad cautiva
cambiando su silencio en carne viva
por tus leves alarmas de inocente
ayer pasó el pasado con su historia
y su deshilachada incertidumbre/
con su huella de espanto y de reproche
fue haciendo del dolor una costumbre
sembrando de fracasos tu memoria
y dejándote a solas con la noche.
Mario Benedetti
terça-feira, 30 de novembro de 2010
75 ANOS SEM FERNANDO PESSOA
Hoje é dia 30 de novembro de 2010. Há exatos 75 anos Fernando Pessoa morria em Lisboa. Para concluir a homenagem que lhe resolvi fazer, uno a um de seus poemas mais lindos a voz da maior intérprete da música brasileira, Maria Bethânia. Para encerrar este ciclo de Fernando Pessoa, então, compartilho com vocês Eros e Psique:
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
Publicado pela primeira vez in Presença, n.os 41-42, Coimbra, maio de 1934.
sábado, 27 de novembro de 2010
DE QUE COR SERÁ SENTIR?
Escrevo-lhe hoje por uma necessidade sentimental - uma ânsia aflita de falar consigo. Como de aqui se depreende, eu nada tenho a dizer-lhe. Só isto - que estou hoje no fundo de uma depressão sem fundo. O absurdo da frase falará por mim.
Estou num daqueles dias em que nunca tive futuro. Há só um presente imóvel com um muro de angústia em torno. A margem de lá do rio nunca, enquanto é a de lá, é a de cá; e é esta a razão íntima de todo o meu sofrimento. Há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não doer, nem há desembarque onde se esqueca. Tudo isto aconteceu há muito tempo, mas a minha mágoa é mais antiga.
Em dias da alma como hoje eu sinto bem, em toda a minha consciência do meu corpo, que sou a crianca triste em quem a vida bateu. Puseram-me a um canto de onde se ouve brincar. Sinto nas mãos o brinquedo partido que me deram por uma ironia de lata. Hoje, dia catorze de Marco, às nove horas e dez da noite, a minha vida sabe a valer isto.
No jardim que entrevejo pelas janela caladas do meu sequestro, atiraram com todos os baloucos para cima dos ramos de onde pendem; estão enrolados muito alto; e assim nem a ideia de mim fugido pode, na minha imaginacão, ter baloucos para esquecer a hora.
Pouco mais ou menos isto, mas sem estilo, é o meu estado de alma neste momento. Como à veladora do “Marinheiro” ardem-me os olhos, de ter pensado em chorar. Dói-me a vida aos poucos, a goles, por interstícios. Tudo isto está impresso em tipo muito pequeno num livro com a brochura a descoser-se.
Se eu não estivesse escrevendo a você, teria que lhe jurar que esta carta é sincera, e que as coisas de nexo histérico que aí vão saíram espontâneas do que me sinto. Mas você sentirá bem que esta tragédia irrepresentável é de uma realidade de cabide ou de chávena - chia de aqui e de agora, e passando-se na minha alma como o verde nas folhas.
Foi por isto que o Príncipe não reinou. Esta frase é inteiramente absurda. Mas neste momento sinto que as frases absurdas dão uma grande vontade de chorar.
Pode ser que, se não deitar hoje esta carta no correio amanha, relendo-a, me demore a copiá-la à máquina, para inserir frases e esgares dela no “Livro do Desassossego”. Mas isso nada roubará à sinceridade com que a escrevo, nem à dolorosa inevitabilidade com que a sinto.
As últimas notícias são estas. Há também o estado de guerra com a Alemanha, mas já antes disso a dor fazia sofrer. Do outro lado da Vida, isto deve ser a legenda duma caricatura casual.
Isto não é bem a loucura, mas a loucura deve dar um abandono ao com que se sofre, um gozo astucioso dos solavancos da alma, não muito diferentes destes.
De que cor será sentir?
Milhares de abracos do seu, sempre muito seu,
Fernando Pessoa.
P.S. - Escrevi esta carta de um jacto. Relendo-a, vejo que, decididamente, a copiarei amanha, antes de lha mandar. Poucas vezes tenho tão completamente escrito o meu psiquismo, com todas as suas atitudes sentimentais e intelectuais, com toda a sua histero-neurastenia fundamental, com todas aquelas intersecções e esquinas na consciência de si-próprio que dele são tao características…
Você acha-me razão, não é verdade?
(Carta a Mário de Sá-Carneiro, enviada em 14 de março de 1916.)
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
I KNOW NOT WHAT TOMORROW WILL BRING
Estimados amigos e amigas: no dia 29 de novembro de 1935, Fernando António Nogueira Pessoa foi internado no Hospital São Luís dos Franceses, em Lisboa, vítima de uma crise hepática provocada, muito obviamente, pelo excesso de álcool ao longo de toda sua vida. No dia 30 de novembro, aos 47 anos de idade, morreu. Nos últimos instantes de vida, pediu seus óculos e escreveu – no idioma no qual foi educado – a seguinte frase: I know not what tomorrow will bring.
Caro Pessoa, meu gênio mais fantástico e impecável, eu também não sei o que o amanhã me trará. Mas, agora, eu quero que todas as minhas fontes se voltem para tua obra e vida.
O CÉU DO INFERNO, então, a partir de hoje, reverencia o incrível e incomparável poeta Fernando Pessoa, cuja obra me é, sempre, plano de fundo existencial.
Para um primeiro momento, escolhi um parágrafo do texto Os Portugueses - A opinião pública em que o poeta diz:
“(...) Convicções profundas, só as têm as criaturas superficiais. Os que não reparam para as coisas quase que as vêem apenas para não esbarrar com elas, esses são sempre da mesma opinião, são os íntegros e os coerentes. A política e a religião gastam dessa lenha, e é por isso que ardem tão mal ante a Verdade e a Vida. (...)”
Também compartilho o poema Autopsicografia, que adoro:
O poeta é um fingidor.
Caro Pessoa, meu gênio mais fantástico e impecável, eu também não sei o que o amanhã me trará. Mas, agora, eu quero que todas as minhas fontes se voltem para tua obra e vida.
O CÉU DO INFERNO, então, a partir de hoje, reverencia o incrível e incomparável poeta Fernando Pessoa, cuja obra me é, sempre, plano de fundo existencial.
Para um primeiro momento, escolhi um parágrafo do texto Os Portugueses - A opinião pública em que o poeta diz:
“(...) Convicções profundas, só as têm as criaturas superficiais. Os que não reparam para as coisas quase que as vêem apenas para não esbarrar com elas, esses são sempre da mesma opinião, são os íntegros e os coerentes. A política e a religião gastam dessa lenha, e é por isso que ardem tão mal ante a Verdade e a Vida. (...)”
Também compartilho o poema Autopsicografia, que adoro:
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
A única hora que tenho para escrever no BLOG é esta e já estou morto de cansaço e sono. Uma pena. Mas, por fim:
Tudo quanto penso,
A única hora que tenho para escrever no BLOG é esta e já estou morto de cansaço e sono. Uma pena. Mas, por fim:
Tudo quanto penso,
Tudo quanto sou
É um deserto imenso
Onde nem eu estou.
Tem como não amar?
Tem como não amar?
sábado, 20 de novembro de 2010
MALDITOS MISERÁVEIS QUE AGORA COMPRAM CARROS
Advertência: o vídeo que exibimos nesta postagem contém cenas explícitas de ódio, preconceito e ressentimento. Seu protagonista é um certo Luiz Carlos Prates, colunista e comentarista da RBS TV de Santa Catarina. A propósito, se alguém achou que a forma de vida mais rasteira da televisão brasileira fosse Lasier Martins, Prates conseguiu a proeza de tomar-lhe o cetro.
As cenas abaixo foram exibidas no Jornal do Almoço barriga-verde, nesta segunda-feira, 15.
Pelo sim, pelo não, tire as crianças da sala.
Nota expropriada do CLOACA NEWS.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
VAMOS EM FRENTE
Eu me movo quando algo me atormenta. Quando os fantasmas estão expurgados e estou solto cara a cara com o singelo, daí não vale. O jogo para mim tem que ser sujo com a vida. Baixo. Eu funciono assim, desse jeito. Meu carvão é o fogo dos infernos metafísicos. A todo o vapor, lá vou eu quando minha caçamba está cheia de lixo. Sou uma esponja das inquietudes humanas. Não vacilo, meu negócio é a dor.
Cravada no meu peito a faca é minha corda. Boneco de corda movido a facada. Sangra vida. Escorre pelo meu peito como um rio de humanidades duvidosas. Jorra a baba, um simulacro de líquido pastoso a que chamam angústia. Nossa. Eu me movo quando algo me cega. Corda. Rins. Vasto é o campo da escuridão.
Cravada no meu peito a faca é minha corda. Boneco de corda movido a facada. Sangra vida. Escorre pelo meu peito como um rio de humanidades duvidosas. Jorra a baba, um simulacro de líquido pastoso a que chamam angústia. Nossa. Eu me movo quando algo me cega. Corda. Rins. Vasto é o campo da escuridão.
Mas agora vamos falar sério, sem liberdades poéticas. Hoje estava lendo um artigo do Dr. César Augusto Baldi que, dentre algumas reflexões, tratava do racismo institucionalizado em algumas esferas do poder brasileiro, capazes de inferiorizar negros e índios em pleno ano 2010. Daí eu comecei a pensar sobre o racismo, sobre o sexismo, o colonialismo, o imperialismo... Ah, se hipocrisia pesasse, meus caros, na balança da farmácia, não ia ter Globo Repórter que abarcasse a explicação da obesidade no mundo. ‘Vamos em frente’, eu disse ao autor do artigo: às vezes o que nos resta é tão somente fazer a nossa parte. Como beija-flores, enchemos o bico de água e colocamos as gotas lá, no incêndio florestal que é a nossa sociedade.
Pura ilusão esta de que estamos evoluindo. O mundo pós-moderno regride de forma proporcional ao aumento de sua estupidez, que está mais nítida do que qualquer high-definition já inventada pelo homem.
Sim meus amigos, esta é uma postagem pessimista, fria, feia, suja. E é difícil ser diferente em um mundo onde pouco se respeita o que é realmente essencial. O estado de anomia está formado, não adianta nem tentar correr. Fuma teu cigarro e apaga na testa da pessoa ao lado. Chegamos ao ponto em que o trágico virou risível e, pior, nos conformamos absolutamente com tudo. Jackass já não tem mais graça, nossa vida é mais bizarra.
(As telas que compõem esta postagem são de Paul Cézanne.)
(As telas que compõem esta postagem são de Paul Cézanne.)
sábado, 13 de novembro de 2010
UM CONTO
Ontem à noite, na estrada, de Porto Alegre para o Cassino, escrevi o meu primeiro conto. Minha primeira ficção. Já havia, em outros momentos, tentado escrever uma estória. Mas meus contos nunca tinham fim, nunca ficavam minimamente completos. Engraçado que este nasceu assim: escrito a lápis, dentro do ônibus, na coxa, com uma iluminação meio ruim e nas folhas que tinha alí, dentro da mochila. Vai saber. Compartilho com vocês e espero que gostem, dando a mim os descontos cabíveis, claro:
JUSTO E AMÉRICA
- Posso entrar?
- Não.
- Já entrei.
- Não é novidade você passar dos limites América.
- Justo, por favor. Eu só queria...
- Não América, quem quer agora é o sol.
- Eu sei que você...
- América, o sol, por favor.
(12 minutos depois)
- Ele já se pôs Justo, posso falar uma coisa?
- Sabe América, talvez este seja o motivo do meu isolamento nos últimos tempos. Você me conhece tanto que sinto vontade de contar para alguém que amo o pôr-do-sol, contar das minhas impressões sobre a velocidade com que ele parte pra Tóquio deixando Porto Alegre.
- Justo, não começa...
- Viu? Não começa? É isso América! Eu quero começar sim! Quero contar e não repetir as coisas. Você veio aqui, entrou no meu templo de um e meio por dois, cheia de tudo o que me farta, quando o que mais eu queria era beijar uma boca cheia de perguntas. Eu quero saliva nova América, eu quero descobrir. Sugar a baba de alguém e degustar como um vinho, tentando decifrar o novo sabor.
- Justo, às vezes...
- Não! Não tem às vezes nem nada disso. Depois de um tempo é foda América, porra. Depois de um tempo cadê a novidade? Quando você sair daqui, do meu templo, sei que você vai colocar aquele pijama esquisito de girafas e nuvens e tomar o seu copo de chá gelado light. Eu nunca entendi o seu pijama, aliás. Daí você vai apagar a luz do quarto, deitada na cama, esticando o corpo e alongando o braço esquerdo até o interruptor. Vai ligar a TV no Canal Brasil e, depois, com a mesma mão esquerda que apagou a luz vai tatear a cama procurando a minha mão. Vai encontrar e, daí, vai puxar meu corpo para te abraçar.
- Justo, você está...
- Não América. Você entrou no meu templo sem minha licença, agora aguenta no osso as minhas rusgas acumuladas. Nossa relação virou um fluxograma da DELL, entende? Um troço de louco isso e nem...
- Justo?! Você está vendo aquela estrela ali? (com a voz um tom acima da dele)
- Qual América? (de má vontade, em tom áspero)
- Ali ó... Assim, em diagonal com as três marias, está vendo? Alí!
- Aonde América? Que estrela?
- Me dá a palma da tua mão Justo. Assim ó. (ela ergue a mão dele em direção ao céu) Abre os dedos como se estivesse abanando pro céu. Não, não. Não abana! Fica com a mão parada. Entre este dedo e este: está vendo esta estrela?
- Sim. O que tem ela América?
- Eu só queria te mostrar uma novidade.
(ela sai da sacada do apartamento, fecha a porta de vidro para não entrar mosquitos na sala e vai correndo vestir seu pijama de girafas com nuvens)
terça-feira, 9 de novembro de 2010
YO ME VOY
“(...) E se a gente simplesmente reconhecesse que nosso re- lacionamento é ruim, e mesmo assim ficasse junto? Se admitisse que a gente enlouquece um ao outro, que está sempre brigando e quase nunca transa, mas não consegue viver um sem o outro, por isso aguenta tudo? Daí a gente poderia passar a vida inteira junto... infelizes, mas felizes por não estarmos separados. (...)”
Elizabeth Gilbert (Eat, Pray, Love – 2006).
'Como podemos ser infelizes e, mesmo assim, querer estar junto?' Perguntou-me uma amiga tão querida quanto provocadora e birrenta, e responder essa questão talvez seja tão difícil quanto ser infeliz e querer estar junto.
Nós somos um acúmulo: carnes, ossos, nervos, cartilagem, cutícula, córtex, medula, sabe? E isso é só a parte bacana da gente. Porque daí entra aquele papo da Chapeuzinho Vermelho: para que servem seus olhos vovozinha? Para que serve sua boca vovozinha? Para que serve seu pulmão, seu cérebro e suas unhas vovozinha? Puta: que guria de merda.
Nós somos um acúmulo: carnes, ossos, nervos, cartilagem, cutícula, córtex, medula, sabe? E isso é só a parte bacana da gente. Porque daí entra aquele papo da Chapeuzinho Vermelho: para que servem seus olhos vovozinha? Para que serve sua boca vovozinha? Para que serve seu pulmão, seu cérebro e suas unhas vovozinha? Puta: que guria de merda.
Acho que o estar junto infeliz, está relacionado a uma determinada falta de coragem. Nós não sabemos lidar muito bem com a solidão, mesmo que não saibamos direito o que ela é ou o que representa concretamente na vida da gente. Nós fugimos da solidão como um cristão do capeta, do demo, do coisa ruim. A gente foge do que nosso imaginário construiu ou, em alguns casos, do que nos foi implantado pelo imaginário coletivo. A gente foge da gente mesmo.
Que bobagem. Eu aqui querendo responder uma questão que... sei lá. Há uns dias atrás reencontrei um poema lindo do Pablo Neruda:
Ya no se encantarán mis ojos en tus ojos,
ya no se endulzará junto a ti mi dolor.
Pero hacia donde vaya llevaré tu mirada
y hacia donde camines llevarás mi dolor.
Fui tuyo, fuiste mía ¿Qué más? Juntos hicimos
un recodo en la ruta donde el amor pasa.
Fui tuyo, fuiste mía. Tú serás del que te ame,
del que corte en tu huerto lo que he sembrado yo.
Yo me voy. Estoy triste; pero siempre estoy triste.
Vengo desde tus brazos. No sé hacia dónde voy.
Desde tu corazón me dice adiós un niño.
Y yo le digo adiós.
Então... “Yo me voy. Estoy triste; pero siempre estoy triste.” Não é lindo isso?
A pergunta lá de cima nos permite inúmeras respostas. Cada um de nós, talvez, tenha a sua própria resposta. Jamais tentaria aqui igualar-me à cátedra de tolos que tenta reduzir questões humanas a isto ou aquilo, a x ou a y. Minha ideia é desaguar, provocar, dividir e certamente foi a mesma intenção da Lisi, quando me perguntou. Então, lembrei de Foucault: A psicologia nunca poderá dizer a verdade sobre a loucura, pois é a loucura que detém a verdade da psicologia.
sábado, 6 de novembro de 2010
WELCOME SIR JAMES
Em Porto Alegre não se fala em outra coisa: Paul McCartney está entre nós. O ex-beatle desembarcou no Salgado Filho hoje às 11h15min e aviões sobrevoam o céu da Capital dando as boas-vindas ao Sir James Paul, com a frase: Welcome Paul McCartney.
Entrando no clima com muita acidez e pouca paciência, O CÉU DO INFERNO homenageia o velho guerreiro (que não é o Chacrinha), com um vídeo do eterno King of Pop:
Here come old flattop, he come grooving up slowly
He got joo-joo eyeball, he one holy roller
He got hair down to his knee
Got to be a joker he just do what he please
He wear no shoeshine, he got Toe-Jam football
He got monkey finger, he shoot Coca-Cola
He say "I know you, you know me"
One thing I can tell you is you got to be free
Come together right now over me
He bag production, he got walrus gumboot
He got Ono sideboard, he one spinal cracker
He got feet down below his knee
Hold you in his armchair you can feel his disease
Come together right now over me
Right
He roller-coaster he got early warning
He got muddy water, he one mojo filter
He say "one and one and one is three"
Got to be good-looking 'cause he's so hard to see
Come together right now over me
(9x)
(9x)
Come together, yeah
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
DA SÉRIE: PORTUGUEZES (PARTE DOIS)
Eu não faço a menor ideia de quem é o Cid Martins, mas ele também não faz a menor ideia de quem eu seja e, principalmente, do que seja o racismo, então está tudo tranquilo.
Neonazistas contra o racismo.
#zerohorafail
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
NÓS NOS DIZÍAMOS: EU GOSTO DE TI TANTO, QUE NEM SEI QUANTO
O CÉU DO INFERNO tem encorajado-me a fuçar nas caixas, cheias de tanta vida, onde guardo tudo o que eu e minha amiga Maria do Carmo Nogueira escrevemos um para o outro, ou juntos. A Carmo faleceu em 2004 e até hoje não consigo lidar com estes papéis todos muito bem. Tampouco consigo colocar nossa relação em um espaço determinado, nunca conseguimos e nunca conseguirei definir o tempo quando o assunto é minha amiga chegada.
Certa vez, em 2003, pegamos duas latas, destas pequenas - de balas - uma para mim e outra para ela. Assim mesmo, singelamente. Dentro da minha eu colocaria o que eu quisesse, para que a Carmo lesse ou recebesse na noite de Natal, que passaríamos separados. Dentro da dela, o mesmo para mim.
A que dei para ela, nunca voltou para mim, nem mesmo dentro das coisas que recebi da Carmo quando ela faleceu, uma pena (ou não). Mas a que ela me deu, encontrei hoje dentro de uma das caixas cobertas de pó e saudade. Uma lata verde (Flópi Diet - sabor limão - sem adição de açúcar). Dentro dela uma folha (metade de uma A4), cor azul, dobrada em várias partes. Nela estava escrito o seguinte poema, que li no Natal de 2003, enquanto esperava o Papai Noel:
Antes de ti...
O que havia antes de ti
Quem era eu?
Não, não sei...
A chuva que lava este verão
Tua alma chuvosa
Alagada
Vindo ao meu encontro
Um tanto afogada
O que havia antes de ti
Quem era eu?
Não! Não direi mais
Não sei
Porque antes de ti
Uma parte de mim
Não era...
Ou quem sabe
Dormia
Verão, sem ti?
Não, eu não seria...
Pois em ti respiro
Quando estou feliz
Quando estou naufragada
Sim, antes de ti
Uma parte de mim
Dormia.
Te adoro, Carmo.
Debaixo da lata verde, um poema conjunto nosso, datado de 17.06.03 (em itálico o que a Carmo escreveu):
Dia e noite
Como um Pronto Socorro
Inscrito nos céus
Há um tempo longinquo
Serão quantas
As vidas vividas?
Quantas ainda serão
As noites
E os dias?
Ah, tempo mítico!
Aguentai-nos
Vinte e quatro horas por dia
Um por vez
Com intervalo
De insones madrugadas
Desenhadas nas nuvens
Como mandalas no céu
Ah, tempo...
Que o vento não leva
Que tatua e fere
Arrastado e denso
Aguentai-nos
Dia e noite
domingo, 31 de outubro de 2010
BOA SORTE DILMA!
Falta pouco para que Dilma Vana Rousseff torne-se a primeira mulher a eleger-se Presidente do Brasil. Como este BLOG também é um diário, um registro das coisas que, para mim, são importantes, fica esta postagem como homenagem a ela, com o desejo sincero de que faça um governo justo, humano e que trabalhe para tornar a vida de todos os brasileiros mais digna.
Boa sorte Dilma!
"Se eu sou uma mulher dura? Sim, é verdade: eu sou uma mulher dura cercada de homens meigos."
Dilma Rousseff, sobre o preconceito contra mulheres na política.
sábado, 30 de outubro de 2010
DA SÉRIE: PORTUGUEZES (PARTE UM)
Claro que não vou conseguir registrar tudo, mas sempre que puder vou compartilhar umas joias aqui com vocês. PORTUGUEZES não surge como uma pretensão arrogante da minha parte em corrigir as pessoas gratuitamente: reconheço que também tenho as minhas dificuldades com o português e cometo vários erros.
Entendam PORTUGUEZES como uma espécie de homenagem às pessoas que criam novas formas de escrever e, muitas vezes, o resultado disso é até mesmo mais interessante do que o "correto". Mas também como uma crítica aos que descuidam em demasia do português e cometem erros difíceis de digerir.
É o caso do Unibanco Arteplex que, na sinopse de Comer, Rezar e Amar, presenteou-nos com um "ainda sim", ao invés de "ainda assim". Isso é ou não é bom? Depois, deu uma vacilada na digitação criando quase que um duplo sentindo com "Gilbert said". Por fim, colocou um "e" entre vírgulas definitivamente incompreensível.
Fonte: Unibanco Arteplex - Programação de 29 de outubro a 4 de novembro de 2010.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
O SILÊNCIO É UM PRIVILÉGIO
As lacunas não estão ali como vãos nulos. São intervalos, espaços recheados de muito mais do que se poderia registrar. Assim são os nossos brancos criativos. Assim são os silêncios. Assim é a saudade. Sou refém dessas intermitências.
Quando me posto diante do computador para escrever sobre algo, ou para alguém, e de repente não consigo, sei que isso não é ruim. Não falar não é sinônimo de não ter o que dizer. A verborragia não diz nada, a gente sabe.
Já tenho em mim um breque inconsciente. Quando começo a falar demais eu sei: estou perdendo o sentido. Talvez por isso eu goste tanto de fotografias. Elas revelam um instante que, parado e mudo, diz. E que bonito é dizer sem falar. Compartilhar o silêncio com naturalidade é, sem dúvida, a maior expressão de uma intimidade mútua.
Em tempos acelerados, cheios de redes sociais capazes de comportar quaisquer expressões verbais em poucos ou muitos caracteres, o que vem restando em mim são as imagens, os movimentos corporais, os cheiros das coisas. Palavras são quadradas demais ou – talvez melhor – são enquadradas demais. Tu, que agora me lês, onde estás colocando isso? Em mim ou em ti? Agora, olhe para as imagens que compõem esta postagem. Para onde elas vão?
Rubem Alves, que me foi enviado por uma amiga no exato momento em que eu colocava o ponto de interrogação da frase acima, diz:
"O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: ‘Se eu fosse você’. A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina. Não aprendi isso nos livros. Aprendi prestando atenção."
Hoje pensei muito no silêncio: o silêncio é um privilégio.
Por fim, compartilho com vocês o trailer de um belíssimo filme uruguaio que vi no domingo. Chama-se "El cuarto de Leo", vejam:
A foto lá de cima foi tirada por Andy Warhol e a segunda por David LaChapelle.
sábado, 23 de outubro de 2010
É CRUA A VIDA
Há um tempo atrás coloquei aqui no BLOG um conto, que é um dos meus prediletos: Dama da Noite, do Caio Fernando Abreu. Hoje compartilho com vocês um dos meus poemas prediletos que, casualmente, é de uma amiga do Caio, a saudosa e incrível Hilda Hilst.
O poema chama-se Alcoólicas e sempre que o leio sinto um impulso, uma vontade de ler em voz alta, de recitá-lo. Espero que gostem.
Alcoólicas
É crua a vida. Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mórula ferida.
É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.
Como-a no livor da língua
Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me
No estreito-pouco
Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida
Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.
E perambulamos de coturno pela rua
Rubras, góticas, altas de corpo e copos.
A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.
E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima
Olho d'água, bebida. A Vida é líquida.
(Alcoólicas - I)
* * *
Também são cruas e duras as palavras e as caras
Antes de nos sentarmos à mesa, tu e eu, Vida* * *
Também são cruas e duras as palavras e as caras
Diante do coruscante ouro da bebida. Aos poucos
Vão se fazendo remansos, lentilhas d'água, diamantes
Sobre os insultos do passado e do agora. Aos poucos
Somos duas senhoras, encharcadas de riso, rosadas
De um amora, um que entrevi no teu hálito, amigo
Quando me permitiste o paraíso. O sinistro das horas
Vai se fazendo tempo de conquista. Langor e sofrimento
Vão se fazendo olvido. Depois deitadas, a morte
É um rei que nos visita e nos cobre de mirra.
Sussurras: ah, a vida é líquida.
(Alcoólicas - II)
* * *
E bebendo, Vida, recusamos o sólido
O nodoso, a friez-armadilha
De algum rosto sóbrio, certa voz
Que se amplia, certo olhar que condena
O nosso olhar gasoso: então, bebendo?
E respondemos lassas lérias letícias
O lusco das lagartixas, o lustrino
Das quilhas, barcas, gaivotas, drenos
E afasta-se de nós o sólido de fechado cenho.
Rejubilam-se nossas coronárias. Rejubilo-me
Na noite navegada, e rio, rio, e remendo
Meu casaco rosso tecido de açucena.
Se dedutiva e líquida, a Vida é plena.
(Alcoólicas - IV)
* * *
Te amo, Vida, líquida esteira onde me deito
Romã baba alcaçuz, teu trançado rosado
Salpicado de negro, de doçuras e iras.
Te amo, Líquida, descendo escorrida
Pela víscera, e assim esquecendo
Fomes
País
O riso solto
A dentadura etérea
Bola
Miséria.
Bebendo, Vida, invento casa, comida
E um Mais que se agiganta, um Mais
Conquistando um fulcro potente na garganta
Um látego, uma chama, um canto. Amo-me.
Embriagada. Interdita. Ama-me. Sou menos
Quando não sou líquida.
(Alcoólicas - V)
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
AS CARTAS
"(...) A questão das cartas é uma questão complexa em que o tempo tem tudo a ver e haver. É que entre o receber das cartas e o lê-las há, para mim, um hiato de angústia que não depende nem da natureza nem do conteúdo das cartas. É mais uma espécie de hesitação indefinida, uma quase vontade de não ler, de não tomar conhecimento, de dispensar a informação emocional ou meramente referencial que as cartas veiculam com o seu inevitável recuar no tempo, porque mesmo trazendo possíveis novidades ou informações até aí desconhecidas, as cartas chegam sempre depois...chegam sempre atrasadas...O hoje da recepção e da leitura vem sempre depois do hoje da escrita e do envio, que agora é já um ontem, e esses dois hojes, sendo desfazados no tempo, contêm a possibilidade quase certa e angustiante de aquilo que nas cartas se lê já não corresponder que está acontecendo. No amor esta dúvida, esta incerteza podem ser fatais...O hoje que leio é já um ontem do que foi escrito...É isso que me desagrada e ao mesmo tempo me atrai desagradavelmente...essa intromissão do passado que as cartas me trazem no presente que estou vivendo, enquanto fico sem nada saber do presente simultâneo de quem me escreveu. (...)"
(Trecho de "Carta-Ensaio" de E.M. de Melo e Castro. In: Galvão, Walnice Nogueira e Gotlib, Nádia. Prezado Senhor, Prezada Senhora: Estudos sobre Cartas. São Paulo, Cia. das Letras, 2000).
terça-feira, 19 de outubro de 2010
OS DESTROÇOS DE TEUS PLANOS
Hoje compartilho com vocês o belíssimo poema "Para além do Cabo Não", o segundo dos "Três poemas portugueses" de Eduardo Alves da Costa. A mim toca muito. Espero que gostem. A tela que compõe esta postagem (acima) é do artista plástico Fernando Karam, bajeense como eu. Nada mais perfeito para acompanhar este lindo poema.
Para Além do Cabo Não
Perdoa-me, paizinho, por eu
não ser o que tu querias.
Se estivesse em mim, juro
que interrompia o salto sobre o muro
deste meu fluir inconstante,
para que tuas mãos se pusessem calmas
e pudesses gozar tuas certezas.
Mas, se nem mesmo eu
estou certo da Beleza
e com ela trabalho, sem garantia,
vinte e quatro horas por dia!
Sei que meus sapatos estão gastos
e que não fica bem ao bacharel
este papel de saltimbanco.
Não está em mim evitar
o sorriso dos teus amigos,
pousados nos lábios
de retratos mortos; eles,
os que não sabem dos portos
a que minha alma vazia
vai buscar esses nadas
de que é feita a poesia.
Há os que têm filhos loucos,
tartamudos, pródigos, pernetas,
mas logo a ti sucedeu o triste fado
de um filho poeta.
Não há como explicar ao mundo
que não o podes manter nos cordéis,
como a sociedade faz a toda gente.
Se eu fosse gago, era só inventar
um susto na infância, um - sei lá -
um tombo, e as pessoas
logo se acostumavam.
Até os que desfalcam bancos
têm os seus motivos: afinal
lamber um monte de notas
acaba por dar em dissonância.
Mas este mal me vem da infância,
do colégio, algo assim
como brincar às escondidas
com o pênis
ou espreitar pelas frestas.
Juro, paizinho, que preferia
ter mantido em segredo
esta compulsão para o espanto.
Esta vertigem epiléptica
em direção ao vácuo.
Diriam: é um vagabundo,
tem lá suas manias, morreu-lhe
a mãe quando criança.
E tu deixavas cair uma lagriminha,
para que a pudessem ver as comadres,
os juízes, a vizinhança,
teus colegas de profissão
e os que, na rua, te
acenam com a mão e têm
sobre mim direitos de cobrança.
Enfim, está feito; já não se pode
evitar que o óvulo engendre este traste
que o mundo insiste em
atirar para um canto.
Só nos resta esperar à beira
do cais que os destroços
de teus planos me cheguem às mãos.
Se tiveres paciência,
ficamos os dois a beber
um caneco, sem mais intenções;
e te prometo fazer
de alguns barris sem fundo
e uns sacos de farinha
uma nau, como as dos velhos tempos,
em que teus antepassados,
tão sem medo, olhavam para o mundo
não com olhos de merceeiros
mas à espera do milagre
que apartasse o não do cabo Não;
e, para além do abismo previsível,
plantasse o sonho
- que é matéria
de que teu filho se compõe.
sábado, 16 de outubro de 2010
ENTRE CAETANOS E AMÉNS
No dia 02 de outubro, crendo na eleição de Dilma Rousseff ainda no primeiro turno, comemorei o fim dos ‘bom Dilmas’ e da onda verde.
Comemorei, equivocadamente, o fim dos ‘bom Dilmas’ por que eles não seriam mais necessários e sempre os considerei idiotas demais. Ora, bom Dilma.
Comemorei, equivocadamente, o fim da onda verde, por que a considerava uma ondinha sem importância. Jamais pensei que o Brasil tivesse 20 milhões de Caetanos Velosos capazes de acreditar que esse “fenômeno” seria algo diferente do que uma jogada da mídia para arrastar o tucano José Serra para o segundo turno.
Estou com vergonha dos meus equívocos. Não sei mais nada do Brasil. Não sei mais nada da política.
Agora estamos diante de um segundo turno feroz. Um vale tudo sanguinário onde a política está, de fato, mostrando sua cara. Nos últimos dias o que mais tem me incomodado é a mistura de religião com Estado. Por favor, está lá na Constituição Federal de 88: somos um Estado laico. Isso quer dizer que não temos religião oficial e, por óbvio, que cada um pode escolher a sua ou nenhuma, como lhe aprouver.
Claro, os candidatos querem os milhões de votos dos evangélicos que seguiram a Marina junto com os Caetanos, nossos amigos da onda verde. Mas, por favor, um pouco de sanidade não faz mal a ninguém. Aborto não é uma questão de religião, é saúde pública! Casamento entre pessoas do mesmo sexo é direito fundamental, é princípio, é isonomia. Do que eles estão falando afinal? Tudo é eleitoreiro, baixo, de difícil digestão.
Levantar essas questões somente colabora para a difusão dos preconceitos, acentua as discriminações, polariza a sociedade. Isso é típico de políticos como José Serra ou como Marina Silva. Essa segunda, da onda verde, queria tirar o corpo fora e colocar em plebiscito questões que são asseguradas pela Constituição, que são direitos fundamentais de todos nós cidadãos. Ora, plebiscito! Só os Caetanos mesmo para caírem nessa. Nós precisamos de políticos que reafirmem os direitos humanos e não que os coloque em votação. Agora vamos votar: a mulher deve ou não abortar? Por favor, Sra. Marina Silva! Não subestime a minha inteligência, eu sei aonde a senhora queria chegar com isso.
A mídia discípula dos tucanos está, agora, tentando de todas as formas fazer com que acreditemos em outras várias histórias. Onda verde, onda de fé, onda disso e daquilo. Sensível e belíssimo o artigo que rendeu a demissão de Maria Rita Kehl, sugiro inclusive que todos leiam, vale a pena entender o que está havendo com as classes sociais brasileiras. É uma reflexão em apertada síntese, mas muito bem feita. Vale, também, entender o que leva à Editora Abril, por exemplo, a apoiar à direita, historicamente. Reparem as vantagens que tem quando o governo é de um partido como o PSDB (clique aqui). Imaginem isso nacionalmente!
O BLOG é um espaço democrático e livre. A verdadeira liberdade de expressão se dá através de espaços como este. Há um universo imenso deles por aí que podem ser explorados, pena que nem todos os brasileiros – ainda – tenham acesso à Internet e acabem ficando reféns da televisão, de jornais ou rádios extremamente tendenciosos e confusos.
Boa sorte para nós no dia 31 de outubro.
DOIS PESOS
Maria Rita é a ganhadora do Prêmio Jabuti 2010 na categoria Educação, Psicologia e Psicanálise com livro O Tempo e o Cão, é psicanalista, ensaista e cronista.
Em entrevista ao Terra Magazine, no dia 07 de outubro, relatou:
– Fui demitida pelo jornal o Estado de S. Paulo pelo que consideraram um “delito” de opinião (…) Como é que um jornal que anuncia estar sob censura, pode demitir alguém só porque a opinião da pessoa é diferente da sua?
Em entrevista ao Terra Magazine, no dia 07 de outubro, relatou:
– Fui demitida pelo jornal o Estado de S. Paulo pelo que consideraram um “delito” de opinião (…) Como é que um jornal que anuncia estar sob censura, pode demitir alguém só porque a opinião da pessoa é diferente da sua?
Abaixo compartilho com vocês o artigo que causou sua demissão.
DOIS PESOS
Maria Rita Kehl
Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.
Se o povão das chamadas classes D e E – os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil – tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por “uma prima” do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.
Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da “esmolinha” é político e revela consciência de classe recém-adquirida.
O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de “acumulação primitiva de democracia”.
Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.
Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
RIO DE JANEIRO
Estou de volta à rotina. Passei uma semana no Rio de Janeiro entre chuva, frio, livros, vento, sol, caipiroska, cerveja, etc. O Rio, claro, continua cada vez mais lindo. Fui a lugares que ainda não tinha ido como, por exemplo, à Academia Brasileira de Letras e à Biblioteca Nacional (a maior da América Latina). Subi no Pão de Açucar no fim do dia, para ver a cidade se acender. Vi a Lilia Cabral no Teatro dos Quatro, na Gávea, com a peça Maria do Caritó. Fui ao Museu de Arte Contemporânea em Niterói e fiz questão de não ter hora para fazer essas coisas. Fiz questão de seguir o ritmo das minhas vontades.
Estou feliz de estar de volta a Porto Alegre. Feliz de amanhã voltar ao trabalho, lugar que me dá tanto prazer; de estar na minha casa. Aos poucos posso, de repente, ir contando algumas coisas da viagem aqui, postando algumas impressões que tive de alguns locais. Falar sobre os LPs que comprei, os livros que encontrei, os bares em que bebi. Ao poucos, bem aos poucos.
domingo, 3 de outubro de 2010
QUE YO NUNCA HE HIPOTECADO AL ALMA MÍA!
Parao é uma música de Rubén Blades, que conheci na voz da saudosa Mercedes Sosa há muito tempo atrás. Hoje, após as eleições, ela voltou de repente a minha cabeça, querendo dizer algo sobre a vida, sobre as lutas, sobre tudo aquilo que a Mercedes sempre cantou de forma tão intensa e bonita.
Compartilho com vocês a letra de Parao:
Hay quien ve la luz al final de su tunel
Y construye un nuevo tunel, pa´ no ver,
Y se queda entre lo oscuro, y se consume,
Lamentando lo que nunca llegó a ser.
Yo no fui el mejor ejemplo y te lo admito,
Fácil es juzgar la noche al otro día;
Pero fui sincero, y éso sí lo grito,
Que yo nunca he hipotecado al alma mía!
Si yo he vivido parao, ay que me entierren parao;
Si pagué el precio que paga el que no vive arrodillao!
La vida me ha restregao, pero jamás me ha planchao.
En la buena y en la mala, voy con los dientes pelaos!
Sonriendo y de pie: siempre parao!
Las desgracias hacen fuerte al sentimiento
Si asimila cada golpe que ha aguantao.
La memoria se convierte en un sustento,
Celebrando cada rio que se ha cruzao.
Me pregunto, cómo puede creerse vivo,
El que existe pa´ culpar a los demás?
Que se calle y que se salga del camino,
Y que deje al resto del mundo caminar!
A mí me entierran parao.
Ay, que me entierren parao!
Ahí te dejo mi sonrisa y todo lo que me han quitao.
Lo que perdí no he llorao, si yo he vivido sobrao,
Dando gracias por las cosas
Que en la ruta me he encontrao.
Sumo y resto en carne propia,
De mi conciencia abrazao.
Parao! aunque me haya equivocao,
Aunque me hayan señalao,
Parao! en agua de luna mojao,
Disfrutando la memoria de los rios que he cruzao,
Aunque casi me haya ahogao, sigo parao!
Parao!
sábado, 2 de outubro de 2010
O FIM DO BOM DILMA E DA ONDA VERDE
Sempre gostei muito de política. Meu voto sempre foi destinado, com segurança e convicção, a políticos cujas trajetórias tinha para mim como imaculadas. Acho importantíssimo votar e, mais do que isso, saber em quem se está votando e para que se está votando. O que faz um Deputado Estadual exatamente? Qual o papel do Deputado Federal? E o Senador? Enfim, as pessoas não sabem as respostas para essas questões e, com isso, discutem política com uma galhardia de botequim.
Durante estas eleições de 2010 resolvi abster-me de debater política. Inevitável que – em alguns momentos – tive de emitir meu juízo de valor em relação a algumas boçalidades muito latentes. Mas, no geral, evitei sempre entrar em méritos ideológicos. As ideologias hoje em dias estão muito confusas para mim.
Isso tudo não quer dizer que eu desisti da política. Não! Eu tenho os meus candidatos. Mas, sinceramente, creio que não me interessa mais debater política com quem, por exemplo, me deseja “bom Dilma!” ou que, ingenuamente, vem para mim falando em uma tal “onda verde”. Eu não acho bonitinho desejar bom Dilma para alguém, acho isso ridículo, para não sujar meu BLOG com palavra mais feia. A tal onda verde, então, é uma ondinha construída pela mídia para haver segundo turno que, de verdade, não acredito que meus amigos mais próximos caiam nessa.
Tenho convicção plena, ainda, que algumas sanidades vão nos salvar dessa onda, e aí sim podemos falar em grande onda (seja da cor que for), de mediocridade intelectual pela qual estamos passando e que vem, consubstancialmente, rasgando as conquistas advindas da Constituinte. Estamos diante da eleição que marca 21 anos da reconquista do voto direto para Presidente da República, às vezes a história vem para – justamente – nos dar um tapa na cara e dizer, a la novela das nove: o que você vai fazer com o seu voto? Não reneguem a história, valorizem o dia 03 de outubro como sendo uma conquista que, indiscutivelmente, faz parte de um reconhecimento à dignidade da pessoa humana.
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